DEUS ASSASSINO?

DEUS ASSASSINO?

POSTADO EM 11 de Janeiro de 2016


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A charge do jornal francês Charlie Hebdo desta semana traz a imagem estereotipada de Deus (velho com barba, um triângulo sobre a cabeça com um olho no centro – antiga referência à Trindade e ao olho de Deus que tudo vê – e um fuzil- metralhadora amarrado à cintura e em fuga). A manchete fala que o assassino ainda está solto. O jornal francês tinha tiragem pequena e sua índole é extremamente satírica e crítica a tudo e para todos. O maior acionista da editora do jornal afirma: “Queríamos lembrar que somos um jornal ateu, que coloca em questão a própria ideia da existência de Deus. Eu gostaria que nós escutássemos um pouco menos os religiosos. Estamos soterrados, poluídos por esses pensamentos primitivos e débeis”. (O Estado de São Paulo, em 7/1/2016). Assim, de saída, não dava para esperar visão equilibrada entre a ação humana que pode distorcer crença religiosa. Esse jornal tornou-se mais conhecido após o assassinato de um grupo de jornalistas que faziam parte de sua direção e redação. Penso que todos ainda têm presente a tragédia ocorrida. Matar alguém porque pensa diferente é inadmissível. Ainda com maior razão se é colocada a base de fé religiosa para eliminar alguém. Já conhecemos suficientemente na história da humanidade essa barbaridade. Gente de todos os credos já matou em nome de Deus. Tristemente testemunhamos hoje o recrudescimento desse modo de pensar e agir. Dois temas surgem para esta reflexão: a liberdade de expressão (compreendida a liberdade de imprensa) e a tolerância religiosa. A liberdade de expressão é um direito fundamental. Penso que isso é indiscutível. O que se pode questionar, a meu ver, é a forma como se vive esse direito. Embora haja o poder Judiciário para resolver questões entre quem ofende e quem é ofendido, parece que o caminho melhor para a convivência social seja aquele que previne situações que podem ser evitadas. Explico-me: a utilização de linguagem e sua formulação que levem em conta o que pensa aquele que é criticado dariam boa base para diálogo e crítica que construam e não criem antagonismos desnecessários. Naturalmente há situações que exigem dureza de palavra e atitude, mas há sempre que se buscar não detonar pontes que impeçam clareza e soluções. Quanto à tolerância religiosa: a charge e a frase do jornal francês ferem a índole religiosa. A utilização da imagem e manchete passa a impressão que Deus é assassino e é preciso prendê-lo. Não será difícil passar a mensagem que a religiosidade é perniciosa. Sabemos que há deturpação da fé islâmica. A sua raiz é judaico-cristã somada com os ensinamentos de Maomé. A interpretação literal dos escritos do Antigo Testamento, também para judeus e cristãos, pode trazer a imagem de um Deus vingativo, justiceiro que mandava passar a fio de espada os inimigos. A visão literal da Bíblia, porém, não faz nenhum sentido. E, além do mais, a visão de Deus do Antigo Testamento foi superada pela revelação de Jesus Cristo que ensinou que podemos chamar a Deus de Pai. E o caminhar da fé cristã nos ensina que todo ser humano é chamado a ser filho no Filho.  Um dos problemas do fanatismo, tanto cristão como islâmico, é a interpretação que é feita dos textos sagrados e os ensinamentos decorrentes. Na Igreja temos um ponto extremamente importante: O Magistério do Papa e dos Bispos. Eles, sucessores dos apóstolos, são os mestres que na comunhão do Colégio Episcopal exercem a função de ensinar. No Islã não existe uma autoridade central. Daí surgem as “sharias” (interpretações) que caminham de acordo com a tradição assumida pelo imã (clérigo) e a ideologia que deseja transmitir. A linguagem do Alcorão é a que apresenta a Deus como misericordioso e compassivo (como a Bíblia). Em muitas passagens se fala pelo respeito às pessoas e à vida. A linguagem do castigo deve ser entendida a partir do tempo em que foi escrita (há mais de 1400 anos!). Do mesmo jeito que se deve ler a Bíblia (quem tem os livros do AT com mais de 2500 anos!). Sem o suficiente conhecimento da exegese e hermenêutica dos textos sagrados são faladas bobagens tanto a partir da Bíblia como do Alcorão! Desafios diante dos acontecimentos: capacidade de opinar sem ofender e estudar as visões diferentes. Em todos os campos!

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