Homilia no encerramento do Retiro do Clero 2023

Homilia no encerramento do Retiro do Clero 2023

POSTADO EM 14 de Setembro de 2023

Itaíci – 11 a 14 de setembro de 2023

Padre Rafael Capelato


Com esta Celebração Eucarística, estamos terminando o retiro espiritual de 2023. Fomos primeiramente exortados pelo pregador, a fazer do retiro, uma pausa restauradora, uma volta à fonte da Palavra, e a reanimar-nos para, com novo ardor, prosseguir no exercício do exigente ministério que desempenhamos, fiéis e alegres, repensando a acolhendo a espiritualidade própria de nosso estado, para que, não entregues ao ativismo que nos esgota, mas sempre atentos ao essencial, não descuidemos no cultivo da oração, o que nos manterá numa relação de proximidade e intimidade com Jesus. Se, sobre nós pesa o pragmatismo de tantos afazeres, um pragmatismo muitas vezes medíocre e devorador, o melhor modo de enfrenta-lo é o refugio no Senhor. E assim, fomos nos convidados a nos determos à sombra da cruz, sombra da árvore da vida, para aí nos defrontarmos com nossas sombras, iluminando-as no Mistério Pascal, no Mistério da Igreja e no mistério de toda nossa existência. No silêncio e na contemplação, por graça e bondade de Deus, a oportunidade de restauração da grandeza de nosso ser. Fomos assim, chamados a fazer do retiro, um tempo de graça.


Fomos chamados a rezar a beleza de nossa vocação à vida, a primeira de todas as vocações– vocação para a imortalidade, como únicos diante de Deus, que nos amou antes de sermos formados no ventre materno. Criados para a liberdade, com potencialidades para fazer escolhas para o bem ou para o mal, vamos determinando nossa existência, abrindo-nos ou fechando-nos ao Criador, em meio aos desafios de nossas relações, que implicam a inteligência, a memória e a vontade, o que nos tornam sempre mais imagem de Deus ou orgulhosos e autossuficientes como nossos primeiros pais no paraíso. Reconhecemos que o mal age em nós, mas não estamos irremediavelmente perdidos. Deus nos procura sempre e deseja restaurar em nós a beleza original,e é isto que confiantemente pedimos. Na presença dele, sempre examinar nossas escolhas. Que bom se neste retiro não perdemos a oportunidade de nos examinarmos, na graça e na escuta dele, para sermos livres e verdadeiros, íntimos dele e íntimos a nós mesmos.


Da vocação a vida. À vocação batismal.

Fomos convidados a rezar nossa vocação batismal, nós que fomos chamados à filiação divina – à vida em Cristo – ao amor trinitário que sempre nos atrai a Ele. Seu desejo é que sejamos dele, estejamos nele, pois nele fomos redimidos, recriados. O seu amor venceu. Na árvore da vida– árvore da cruz, alcançamos a redenção nele, o Filho, o novo Adão. Nossa oração deve expressar sempre esse anseio de comunhão com ele, como que numa relação esponsal e fiel. É isso que o batismo realiza e pede de nós: estar nele, permanecer nele, como sacerdotes, profetas e reis. O pecado foi vencido, não tem mais poder, não tem mais valor. Tem valor e conta a vida nova na Trindade: assumidos – perdoados – amados no amor trinitário. O retiro nos levou a essa experiência recriadora e sempre nova? A ele nos entregamos na liberdade e na graça? Proclamar as maravilhas de Deus é o que somos chamados a fazer, nós que fomos salvos do pecado, banhados e resgatados em Cristo. Não tenhamos medo de nos lançar. Deixemo-nos guiar pela força de Deus,entrando nas profundezas de sua altura, grandeza e beleza. Longe de toda a divisão vivamos essa comunhão no amor, possível se formos generosos, dando passos no conhecimento desse mistério: aí, nossa santidade, liberdade e superação de toda escravidão, armadilhas que nos prendem, nos apequenam e nos destroem por inteiro. Ser atraídos para o alto, seja a meta deste retiro para os dias vindouros.


Continuamos a contemplação do mistério de Deus em nossa vida, e chegamos a nossa vocação sacerdotal. Fundamental: Deus nos quis, nos chamou para estar com ele, e com ele sermos fiéis até o fim, a perseverar no dom recebido, perseverança possível e real à sombra da cruz, na liberdade, com a entrega da vida, sem desanimar, mas cheios de esperança, fazendo das crises oportunidade para crescer – ser mais. É Deus quem nos conduz e faz superar toda dor e angústia que nos invadem. No sumo sacerdote, Jesus, o nosso caminho, ele que nos chamou porque quis. Não sabemos o porque o quis e o fez. Assim, no caminho, alegres e servindo, vamos amadurecendo nossa vocação, voltados sempre ao primeiro amor, nunca a sós, sempre com ele na adesão contínua a ele. Em quais bases assentamos o nosso ministério? Na sabedoria que vem do alto, ou em nossas vontades pessoais? O que é certo, é que o que Deus nos reserva, será muito melhor. Apoiados em nós mesmos sucumbiremos. Jesus Cristo é nosso sustento, nossa força. Nele, a nossa estatura – a estatura do homem perfeito, que venceu a dor e o sofrimento, sempre dignos da vocação a que fomos chamados, abertos ao Pai e ao próximo, deixando pulsar nosso coração no seu coração – o coração de Cristo ferido na Cruz. Sem beber dessa fonte (sangue e água), como alimentar nosso coração sacerdotal? Entremos, refugiemo-nos cada dia nas fendas do coração de Jesus. A medida do nosso coração seja a medida do seu coração, pleno de amor e de bondade.


Continuamos a reflexão curvados sobre a beleza do ministério ordenado, na Igreja, para e com a Igreja, a serviço da comunhão com Deus e com o seu povo. Ministério instituído por Cristo, em favor do seu corpo – a Igreja, com sua origem na Trindade. Serviço que emana de Jesus Cristo em sua Paixão, Morte e Ressurreição e, a partir dele se expande por meio daqueles que ele escolheu como já ouvimos. Escolheu e enviou-os, primeiramente aos filhos de Israel e depois, a todas as gentes, eles que tiveram a missão confirmada no dia de Pentecostes. Serviço que edifica a Igreja em sua missão desde sempre, como entrega da vida e do testemunho que abraça o mundo inteiro. Serviço enquanto participação no sacrifício de Cristo, de pertença a ele e que brota dele. E assim, a Igreja não só faz a Eucaristia, mas se torna Eucaristia: unidade com Cristo – unidade com o povo,onde nada é em vão ou inútil, lembrando aqui nosso cansaço – sacrifício gerador de vida, com a força de tornar todo o mundo, um mundo eucarístico, porque o abraça e transforma. Sem este sacrifício – amor, a Eucaristia não se tornará a festa da comunhão: do pão partido e do sangue derramado em favor de todos. Como celebramos a Eucaristia?


Encerramos o retiro na manhã do dia 14 de setembro – Festa da Exaltação da Santa Cruz, retomando o Mistério da Igreja – comunhão, que por sua vez se ergue e se sustenta no Mistério da Cruz, sempre antigo e sempre novo, de onde brota a vida em toda sua potencialidade e exuberância, como pudemos ver e admirar no mosaico de São Clemente – Roma, século XII. Nós que cremos, nos gloriamos na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo. Nela o amor venceu e se tornou mais forte que a morte. Com Cristo também nós, crucificados e ressuscitados. Não tenhamos medo da cruz –luz e vida para o mundo inteiro. Nesse mistério, a resposta a que sou e ao que faço. Tomar a cruz cada dia para encontrar a vida. Nela tudo se refaz, encontra novo sentido. Toda divisão é desfeita e tudo converge para unidade – comunhão. Nesse amor de Deus irresistível e apaixonante permaneçamos, e nele sejamos fiéis. Não tenhamos medo de nos entregarmos. Não tenhamos medode entregar nossa vida.


† Sérgio

Bispo Diocesano

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