Homilia da Missa do Crisma - Semana Santa 2023

Homilia da Missa do Crisma - Semana Santa 2023

POSTADO EM 06 de Abril de 2023

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Missa do Crisma

5 de abril de 2023

                                                      

Homilia  



“... Jesus Cristo, a testemunha fiel, primogênito entre os mortos, e soberano dos reis da terra. A ele que nos ama e com seu sangue nos libertou de nossos pecados, e que fez de nós um reino de sacerdotes para Deus seu Pai, glória e poder pelos séculos dos séculos  Amém!...”(Ap 1, 5 – 6).


                                                     Caríssimos irmãos presbíteros, diáconos, religiosos, religiosas, seminaristas, leigos e leigas, representantes das nossas paróquias, coordenadores de comunidades, atividades pastorais e evangelizadoras, movimentos, grupos e associações presentes nesta celebração, momento alto da vida da Igreja diocesana, reunida ao redor de seu bispo, no seu exercício sagrado do munus santificandi – o serviço de santificar o povo a ele confiado.

                                                     Dois ritos se realizam no transcorrer desta solene concelebração: a bênção e a consagração dos Óleos para a administração dos sacramentos e a Renovação das Promessas Sacerdotais pelos presbíteros presentes. O óleo é sinal da bênção de Deus. Ele penetra profundamente; assim, tornou-se o sinal do Espírito de Deus.

                                                      O povo judeu tinha o costume de ungir seus reis (cf. 1Sm 16,1; 11b – 13a), seus sacerdotes (cf. Ex 30, 22 – 25; 30 – 33) e seus profetas (cf. 1Rs 19,15 – 16). Tomar alguém do meio do povo e ungi-lo para uma missão especial significava que o próprio Deus estava elegendo e, pela unção, confirmando sua presença e ação libertadoras no amor e na fidelidade.

                                                      Abençoamos há pouco o óleo para os enfermos e catecúmenos e consagramos o óleo para a crisma. Eles exprimem as dimensões essenciais da vida cristã. No óleo para os catecúmenos, usado na primeira unção, no sacramento do batismo, a manifestação do desejo de se pôr a caminho com Cristo. O óleo que manifesta a fé e a busca de Deus, que anda à nossa procura. A força e a coragem para a vida cristã estão nele. Assim pede o ministro que batiza, quando unge o batizando com o óleo dos catecúmenos: “O Cristo salvador te dê a sua força. Que ele penetre em tua vida como este óleo em teu peito”.

                                                      Que dignidade a nossa! Com a força que deste  óleo procede, nossa vida seja um constante procurá-lo, conhecê-lo, amá-lo, servi-lo e testemunhá-lo sempre mais. Nesse sentido, somos sempre catecúmenos – capazes de Deus.

                                                        No óleo dos enfermos, o consolo para os que sofrem. Curar os enfermos é o primeiro fruto da chegada do Reino da misericórdia infinita de Deus. Ir ao encontro dos doentes e dos que estão no limite da existência, marcados pela dor, é um gesto que a Igreja jamais pode negligenciar. “... Está alguém enfermo? Chame os presbíteros da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o restabelecerá. Se ele cometeu pecados, lhe serão perdoados... “(Tg 5, 14 – 15).

                                                      No santo crisma, o mais nobre dos óleos, as unções sacerdotal e real, ligadas às grandes tradições de unção da Antiga Aliança. Com a unção do óleo dos catecúmenos, adentramos ao Povo de Deus e, com a unção do santo crisma, somos configurados como Povo Sacerdotal e Real, para revelar as maravilhas de Deus em favor de toda a humanidade. Como povo de servidores, alegre e fiel, é que devemos nos apresentar a cada dia, sem vanglória ou privilégio algum, apenas movidos pelo desejo de atrair muitos irmãos e irmãs a Jesus Cristo e à sua Igreja.

                                                       Irmãos presbíteros e diáconos, peçamos hoje a graça de “reavivar a chama do dom que recebemos pela imposição das mãos” (2Tm 1, 6). Deixemos de lado toda timidez. Animemo-nos pela fortaleza, amor e sabedoria que vêm de Deus, não nos envergonhando de dar testemunho de Jesus Cristo. Se tivermos de sofrer, o façamos fortificados pelo poder de Deus. Retomemos a cada dia a oração, a adoração e a contemplação silenciosa. Cuidemos de nós.

                                                       Cuidemos, sobretudo, para não nos deixarmos levar pela cultura da aparência, do superficial, imbuídos de triunfalismo, um triunfalismo sem cruz. Tenhamos presente que a glória sem cruz vai contra a pessoa do Senhor, vai contra Jesus que se humilha na encarnação e que, como sinal de contradição, é o único remédio contra esses males. Como Cristo, sejamos pobres, com a certeza de que só ele nos basta. Ele escolheu a pobreza e nela viveu a lógica do amor, que para nós, sobretudo, não pode ser outra. Cultivemos o cuidado com as pessoas, as quais não são números, nem objetos, mas rostos concretos, vivendo situações concretas. É aí que somos chamados a empregar a lógica do amor, do olhar sensível e acolhedor.

                                                       Não somos funcionários, pois o funcionalismo afasta o mistério. Cuidado com a hora marcada, com preocupações demasiadas, perfeitamente desnecessárias. Diante de uma pessoa que a nós recorre, dispensemos a ela tempo, ternura e compreensão. Ouvindo-a com o coração, colaboremos para que seja livre e viva a dignidade de filha de Deus. Que nosso eu presbiteral seja fonte de graça para quem nos procura. Que as pessoas renovem a esperança e, depois de terem falado conosco, vivam a certeza que tiveram um encontro com Deus. Peçamos a graça deste discernimento no exercício ministerial, confrontando-nos a cada dia com Jesus, como se ele estivesse hoje em nossa Igreja paroquial à nossa procura.  

                                                      Hoje, como sempre, somos vistos como homens de Deus, que o reapresentam na oração, nos sacramentos, na capacidade de acolhimento, na proximidade e misericórdia, escuta, humildade, perdão e comunhão. E como somos devedores da comunhão, do perdão, que devem começar por nós mesmos. É sempre tempo de recomeçar.

                                                     Aos irmãos e irmãs leigos e leigas, recordamos a palavra da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no documento, “ Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade – Sal da terra e Luz do mundo” (Mt 5, 13 – 14): “...os cristãos leigos e leigas são Igreja e não apenas pertencem à Igreja. Já afirmava o Papa Pio XII: ‘Os fiéis leigos estão na linha mais avançada da vida da Igreja: por eles, a Igreja é o princípio vital da sociedade. Por isso, eles, sobretudo,  devem ter uma consciência cada vez mais clara, não somente de que pertencem à Igreja, mas de que são Igreja, isto é, comunidade dos fiéis na terra, sob a direção do Pastor comum, o Papa, e dos bispos em comunhão com ele...’. Não é evangélico pensar que os clérigos – ministros ordenados – sejam mais importantes e mais dignos, sejam ‘mais’ Igreja do que os leigos. Esta mentalidade, errônea em seu princípio, esquece que a dignidade não advém dos serviços e ministérios que cada um exerce, mas da própria iniciativa divina, sempre gratuita, da incorporação a Cristo pelo Batismo” (n. 109).            

                                                      Na assiduidade à Eucaristia, acolhida generosa da Palavra, contemplação, oração e principalmente na alegria do serviço que edifica toda a comunidade e os abre sempre para as tarefas de colaboração na transformação da sociedade, para que seja mais justa e solidária, vocês vivem tão nobre vocação: “sal da terra e luz do mundo”. Vocês não são cristãos de categoria inferior, não são ajudantes do padre, não são serviçais, tarefeiros ou prestadores de algum favor a quem quer que seja. Vocês são corresponsáveis e gozam de autonomia que enobrece a missão da Igreja. Cultivem a espiritualidade missionária que se expressa na comunhão, capaz de manter viva a vocação de serem cristãos, “depositários de um bem que humaniza sempre mais”.

                                                         Aos religiosos e religiosas de nossa Diocese, sem negligenciar a beleza e as exigências dos carismas próprios, eu peço: transitem em nosso meio como homens e mulheres que, na total liberdade e confiança, animados pelos votos de pobreza, obediência e castidade, levem a refletir o modo de viver de Jesus Cristo, sobretudo pelas obras de misericórdia espirituais e corporais, como já pediu o Papa Francisco na Misercordiae Vultus, n.15. E aperfeiçoem sempre a comunhão com a Igreja diocesana. 

                                                       Aos amados seminaristas, peço que cultivem, no cotidiano do Seminário, a adesão pessoal a Cristo – isso permanece fundamental. O Seminário seja ambiente favorável ao encontro e amadurecimento da vida em Cristo. Oração, estudo, partilha, serviço e cultivo de relações sinceras e honestas são indispensáveis na construção do homem interior. Deixem-se modelar pela escola de Jesus, não só para aprender a falar dele, mas para ser presença dele, discípulos missionários dele. Aspirem, desde já, a um sacerdócio segundo o coração dele, limpo das idolatrias do tempo presente. Que todos aqueles e aquelas, que na experiência pastoral são confiados a vocês, percebam que realmente a Igreja tem futuro. Sejam amigos, sinceros, verdadeiros, pessoas de caráter. Sejam amigos íntimos de Jesus junto ao Sacrário, na Palavra, com os pequenos e pobres.

                                                       No caminho para o centenário da Diocese, sob o olhar misericordioso da mãe de Deus e nossa, aprendamos, com ela, a acolher e a realizar a vontade de Deus, tornando-nos, pela graça de seu Filho, um povo sacerdotal.


†Sérgio

Bispo Diocesano

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