Coordenador da C.F. se reúne com presidente do Regional Sul 1 da CNBB e concede entrevista

Coordenador da C.F. se reúne com presidente do Regional Sul 1 da CNBB e concede entrevista

POSTADO EM 05 de AGOSTO de 2016

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Atento aos apelos do Papa Francisco à Igreja no mundo e em sintonia com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o padre Antonio Carlos Frizzo (foto) da coordenação regional da Campanha da Fraternidade se reuniu ontem, 5, com o presidente do Regional Sul 1 da CNBB, dom Airton José dos Santos.

Também estiveram presentes na reunião o secretário-geral, dom Julio Endi Akamine; Toninho Evangelista, secretário e o padre Manoel Quinta .

Na pauta o destaque foi sobre a animação e dinamização da Campanha da Fraternidade deste ano, “Casa Comum, nossa responsabilidade” e lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24), nas arquidioceses e dioceses paulistas.

Segundo o coordenador, apresentamos ao presidente alguns assuntos como a necessidade de acompanhar projetos despoluição do Rio Tietê; implantação da coleta seletiva de lixo nos municípios; tornar conhecida a lei do Saneamento Básico e cobrar por sua implantação; divulgar ações que colaborem com o uso responsável dos recursos naturais através de subsídios e projetos de educação ambiental.

O coordenador estadual comentou que o rio Tietê, com seus 1.150 km de extensão, é o maior rio do estado de São Paulo e banha 62 municípios paulistas. Mas, na região metropolitana, é um dos mais poluídos e está completamente morto. “Constatamos que em poucas regiões do Estado mais rico da federação, governo estadual e prefeituras, investem pouco ou nada em saneamento básico, sem contar o consequente despejo de esgotos residenciais e industriais diretamente no rio, salientou o coordenador. Mas, descobrimos também boas experiências de governo no cuidado com os rios e mananciais, coletas seletivas e descarte dos resíduos sólidos em algumas cidades.

Outro tema discutido na reunião foi a visita que a coordenação fez na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde o grupo conheceu o laboratório de Energias Renováveis. Foi discutido também sobre o seminário estadual de preparação sobre a CF-2017,  que terá como tema “Fraternidade: Biomas brasileiros e defesa da vida” e lema “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15). O evento que será realizado, do dia 21 ao dia 23 de outubro deste ano acontecerá no Centro de Espiritualidade Inaciana em Itaici, SP. O evento será promovido pela equipe do Regional Sul 1 da CNBB que compreende os Estados de São Paulo.

Ao final da reunião o coordenador padre Frizzo, concedeu entrevista, e fez um balanço da CFE no estado de São Paulo e falou sobre a próxima campanha que terá como tema “Fraternidade: Biomas brasileiros e defesa da vida” e lema “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15)? . Confira abaixo a entrevista.

Regional – Qual avaliação o senhor faz da Encontro de Avaliação da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano?

Antonio Carlos Frizzo – Foram três dias valiosíssimos. Já consagramos dois momentos por ano dedicados à CF. No encontro de outubro, as Equipes Regionais planejam a Campanha do ano seguinte. Encontros e visitas às dioceses, debates nos centros universitários, encontro entre os bispos diocesanos e representantes dos poderes executivos e legislativos acontecem nas diferentes Câmaras dos Vereadores. Nós, da Equipe Regional, visitamos os mais diferentes rincões do Estado para divulgar o tema, as pistas de ações e possíveis entidades parceiras na execução da CF.  Findada a Campanha, nos reunimos, sempre no mês de maio, para avaliar a receptividade da proposta junto às Igrejas Particulares, no Regional Sul I.

REGIONAL – O evento superou as expectativas?

Antonio Carlos Frizzo – Preparar e avaliar a Campanha são momentos significativos. Não apenas pelas diferentes temáticas escolhidas pelos bispos, a cada ano, mas pela solidez que a Campanha da Fraternidade exerce no cenário político e social no país. Após 52 anos de sua realização, a CF, tornou-se um “patrimônio nacional”. Leigos e leigas, padres e religiosas empenham-se com esmero na sua organização e acompanhamento dos inúmeros projetos que surgem após sua realização. Por meio da CF as igrejas particulares dialogam com a sociedade, no mais profundo sentimento bíblico que ser “sal e luz” da terra.

Este ano os caminhos se alinharam. Sem saber que o papa Francisco falaria dos cuidados com a Casa Comum, em sua encíclica  Laudato Si’, a Equipe Ecumênica responsável pela elaboração do Texto Base – uma espécie de “cartilha” para o bom desenvolvimento da Campanha – também escolhera a temática do saneamento básico e o cuidado com o meio ambiente. As expectativas foram as melhores. Descobrimos boas experiências de governo no cuidado com os rios e mananciais, coletas seletivas e descarte dos resíduos sólidos em algumas cidades.  Triste foi constatar que em poucas regiões do Estado mais rico da federação, governo estadual e prefeituras, investem pouco ou nada em saneamento básico.  O Plano Diretor da cidade não é respeitado. Vereadores e Conselhos Municipais não exigem dos prefeitos seu comprimento. Grande soma de dinheiro – verbas federais – são desviadas por meio de acordos envolvendo empreiteiras e os poderes públicos municipais e estaduais. Em poucas cidades existem os Conselhos Municipais do Meio Ambiente, órgão responsável em fiscalizar e propor ações na esfera do saneamento básico, na preservação dos córregos, maciais e rios.

REGIONAL – Na sua opinião, qual foi o grande momento do encontro?

Antonio Carlos Frizzo – São vários os momentos significativos num encontro desta proporção. Quem não se comove ao verificar a despoluição do rio Jundiaí, resultado de  projeto iniciado há mais de 15 anos. A região não sofre com a escassez de água. Tudo, graças ao projeto de despoluição e reflorestamento das matas ciliares que preservam as nascentes. A região de Franca consome a melhor água potável do país. Tudo, graças a um investimento laboratorial e técnico no controle da agua consumida na região. O surgimento da Pastoral da Ecologia, na diocese de São Miguel Paulista, tendo entre seus desafios o combate à enchente na castigada Vila Pantanal, que todos os anos sofre com a elevação das águas do Rio Tietê.

Por outro lado, tem as tristezas de sempre. Jundiaí e Franca surgem como pérolas em meio ao lodo. Quem não se envergonha com o descuido do rio Tietê, do rio Pinheiros, da represa Billings? A SABESP – maior grupo empresarial responsável pelos recursos hídricos no estado de São Paulo, hoje com 49% de suas ações compradas por investidores – não tem nenhum projeto de despoluição dessas importantes bacias hidrográficas, que num futuro próximo podem garantir o abastecimento de água na região da grande São Paulo. Precisamos acabar com a categoria de “rio morto” no Brasil. Somente com mobilização popular e “governo e povo trabalhando juntos” poderemos ressuscitar o mais importante e imponente rio paulista.

Outro tema em pauta foi a alarmante a produção de agrotóxicos no Brasil. Descobrimos que o governo brasileiro além de permitir o uso de pesticidas proibidos em outros países, chaga ao cúmulo de exonerar impostos dessas substancias. O morango vermelho e carnudo e o espinafre verde-escuro podem conter, além de nutrientes, doses altas de resíduos químicos. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), metade dos agrotóxicos usados no Brasil são proibidos em países da União Europeia e nos Estados Unidos.

Outro ponto de destaque foi o fato de conhecer um conjunto de leis e marcos regulatórios que consagram a importância do saneamento básico. Sobram no país leis na defesa do meio ambiente, na criação e gerenciamento de cooperativas de recicladores, no manejo e descarte de resíduos sólidos. No Brasil, desde a Eco 92, encontro mundial realizado na cidade do Rio de Janeiro, com a organização de  inúmeros movimentos ambientalistas, surgiu um rico arcabouço jurídico. O que sentimos é o fraco e, as vezes, inexistente sistema de fiscalização. Verdadeiros crimes ambientais ocorrem sem que os poderes – Executivos, Legislativos e Ministério Público –  se quer, tenham conhecimento.

REGIONAL – De que forma as dioceses contribuíram para  o tema da CFE-2016 “Casa Comum, nossa responsabilidade?

Antonio Carlos Frizzo – Cinquenta anos após a criação da CF, é notório que as Equipes Diocesanas possuem significativo modo de operacionalizar este acontecimento, que durante 40 dias, unifica, nos mais diferentes rincões do Brasil, o discurso pastoral. Por ter sido uma campanha  ecumênica, isto é, feita em parceria com outras igrejas cristãs, a necessidade de articulação entre as igrejas acabou se impondo naturalmente. Percebemos avanços em muitas Dioceses. Onde não havia nenhuma articulação entre as igrejas cristãs, vimos surgir comissões de diálogo inter-religioso, a Pastoral Ecumênica e o fortalecimento do, já conhecido,  CONIC. Percebo que o conceito de relacionamento ecumênico colabora na renovação paroquial. Fortalece  a mística de ir ao encontro do outro e, uma vez juntos, atuar na superação dos problemas ambientais que prejudicam todos, numa determinada região. “A natureza nada reclama, apenas se vinga”, diz um ditado popular. Ou damos passos significativos para cuidar de nossa casa comum, ou todos, indiscriminadamente sofreremos as intempéries da mãe Terra.

Nas últimas campanhas, as igrejas particulares buscam responder aos temas propostos por meio de um trabalho feito em parcerias. Chamo isso de “princípio de subsidiariedade”. São inúmeras as experiências de projetos feitos em parcerias com as Universidades, Centro de pesquisa, educadores ambientais, sociólogos e Ong,s. Isso facilita pois todos temos uma reciprocidade no ato de cuidar do Planeta.

REGIONAL – O que se espera para o próximo encontro, que deve preparar a CF-2017, “Fraternidade: Biomas brasileiros e defesa da vida” e lema “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15)?

Antonio Carlos Frizzo – Creio que a próxima Campanha da Fraternidade acontece à sombra da realizada este ano. Teremos tempo para aprofundar aspectos indicados na execução do tema sobre o gesto de cuidar da casa comum e, ainda, perceber a riqueza e diversidades dos biomas nas regiões do Brasil. Será mais um precioso tempo para descobrir os diferentes tipos de matas, rios, populações de aves, peixes e animais que emolduram nosso rico e vasto meio ambiente. Por isso, defendêe-lo é preservá-lo são tarefas de todos.

REGIONAL – Aberta. Pode completar com a informação que julgar necessária.

Antonio Carlos Frizzo – Nós da Equipe Regional da CF – formada com representantes dos Sub-regionais do Estado de São Paulo  – cremos no princípio da subsidiariedade para que os temas propostos pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil),  sejam planejados, executados, avaliados e celebrados com o grau de seriedade e maturidade que exigem. Sem parcerias com os movimentos organizados, poderes locais – executivos e legislativos – Ong,s, Agências de Desenvolvimento, Centros Empresariais dificilmente a CF tem facilidade para romper e ir além das quatro paredes de nossas Igrejas e Centros Comunitários. Ou apostamos nas parcerias ou dialogaremos, cada vez menos, com a sociedade portadora de “tristezas, alegrias e esperanças”. Métodos obsoletos devem ser postos de lado nestes tempos de mudanças que sentimos e a todos se impõem.

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Em reunião ocorrida na tarde desta quarta-feira, 03, a coordenadoria da Campanha da Fraternidade apresentou ao presidente dom Airton José dos Santos projetos relativos sobre despoluição do Rio Tietê, saneamento básico e coleta coletiva de lixo


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