Confiemo-nos ao Senhor, Ele é justo e tão bondoso!

Confiemo-nos ao Senhor, Ele é justo e tão bondoso!

POSTADO EM 06 de Abril de 2020

Confiemo-nos ao Senhor, Ele é justo e tão bondoso!

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Quantas vezes cantamos esse mantra em nossas vigílias, momentos de espiritualidade ou oração pessoal. Neste momento em que muitas perguntas e ou mesmo dúvidas parecem pairar sobre nós, importante, é aprofundar o sentido da confiança no Senhor que este tempo exige.

A fé é confiança. Diversos textos ajudam-nos a compreender isto. Quem de nós não lembra da história de Abraão e seu filho Isaac? O que pediu Deus a ele como prova de fé? E Deus vendo que era um homem de fé não realizou o mal que pretendia. O que dizer da experiência de fé de Jó? Deus e o diabo conversam sobre a “inquebrantável” fé de Jó. O diabo quer pô-lo à prova e Deus permite, mas pede-lhe para poupar a sua vida. E assim Jó perde sua família, os bens e vêm a ser vítima de feridas do pé a cabeça.

Jó não ensina-nos a ter paciência, mas antes confiança. Lemos em uma passagem que ilumina todo o sentido do texto na perspectiva da confiança:

“E disse o Senhor a Satanás: Eis que ele está na sua mão; porém guarda a sua vida. Então saiu Satanás da presença do Senhor, e feriu a Jó de úlceras malignas , desde a planta do pé até o alto da cabeça. E Jó tomou um caco para se raspar com ele; e estava assentado no meio da cinza. Então sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade. Amaldiçoa a Deus, e morre. Porém lhe disse: Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios”. (Jo 2, 6-10).

Na interpretação que propomos podemos entender que a confiança manifesta-se numa entrega total da vida nas mãos de Deus. É uma perspectiva que transcende o sentido de receber coisas boas ou más. O importante é fazer a vontade do Senhor. A paciência é consequência da confiança e gera esperança.


Saber sofrer as demoras em Deus com paciência é a virtude a ser cultivada. A confiança no Senhor faz-nos saborear a suavidade do seu amor em nós, embora, vivamos dentro de um mistério maior que não somos capazes de explicar.

Quando tentamos explicar a pandemia, podemos correr o risco de atribuirmos ao Senhor um castigo divino que paira sobre nós e ou mesmo a ideia de que o fim do mundo chegou. Para além dessas respostas que podem confortar o nosso desespero e angústia em buscar sentido para que a dor seja menor, insisto, nossa perspectiva deve ser a do abandono com confiança nos braços do Pai.

Acolher o mistério em meio a nós é ter uma atitude humilde perante a grandeza do Deus Criador e Todo-poderoso. Mistério que envolve-nos em cada contemplação que fazemos. Deus continua a salvar. Ele salva criando e cria salvando. Todo dia a Criação surge renovada de suas mãos. E no meio dessa natureza exuberante estamos nós, maravilha maior que Ele fez, pois somos feitos à sua imagem e semelhança.

Mistério de Deus que permite o que estamos vivendo, mas sem merecer de nossa parte o juízo como o culpado. Em seu modo de ser amor, Ele deu a nós a graça de sermos livres e capazes de escolher. E nas escolhas, tantas por se fazer, alguém decidiu comer um morcego. Dentro dele havia um vírus. Quem sabe seja inofensivo à esses mesmos seres vivos, pois sabemos que convivemos com vírus e bactérias, mas era nocivo ao ser humano e aqui estamos a proteger-nos de uma pandemia.

Santo Afonso Maria de Ligório ensina que Deus não permite um mal sem que queira dele tirar algo infinitamente melhor. Essa afirmação também está sob o crivo do mistério. E como lidamos com uma lógica que é diferente da nossa, o que cabe a nós é a atitude que se espera de quem confia: dobrar os joelhos em adoração ao Senhor e esperar confiante.

Nossa confiança é a certeza que temos em Cristo Vivo e Ressuscitado que vive no meio de nós. Em nossos corações foi derramado o Espírito do Filho que clama Abbá. Somos habitados pela Santíssima Trindade. Vivemos em comunhão com Deus e neste sentido, nada nos falta, pois só Deus basta.


É acolhendo esse amor uno e trino em nosso interior e experimentando a presença do Senhor em nossas vidas que vamos seguindo. Procuremos compreender o mistério de uma comunhão que neste momento pode ser vivida a partir das palavras de Jesus que diz: Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, eu estou no meio deles.

A fé vem pela escuta da Palavra. O “shemá” é um convite a obedecer. Quem escuta a minha palavra e põe em prática é semelhante ao homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha. Pode vir chuvas, tempestade, enfim, a casa não cai, pois está construída sobre alicerce firme.

Esta palavra hoje pode ser compreendida na ordem dada a nós pela Organização Mundial da Saúde pedindo o isolamento social rigoroso para que o vírus diminua sua transmissão. Viver a fé é obedecer ao Senhor da Vida que quer que todos tenham vida e vida em plenitude. A atitude de defender a própria vida e assim do seu semelhante é, acima de tudo, atitude cristã, pois o sacrifício do isolamento por amor gera vida.

A Cruz se vive como Amor. Neste tempo tão próprio da celebração do Mistério Pascal, somos chamados à aprofundar o sentido de viver como cristãos na perspectiva de viver o Mistério do Amor do Senhor por nós. Sua Paixão manifesta ao mundo a misericórdia sem limites. E Ele vive ressuscitado e vitorioso, pois venceu o mal e a morte.

E neste mistério que nos envolve, como diversas vezes afirmei, sem que busquemos explicar mas confiar, podemos por um instante, silenciando nosso coração e abrindo-nos a contemplação do que está acontecer ao nosso redor, reconhecer, há muita dor e sofrimento em toda parte.

O Senhor está a sofrer em todos aqueles e aquelas que estão infectados e infectadas, em cada um de nós que sofremos buscando o distanciamento social, como também nos profissionais da saúde e na dor do luto dos familiares que não puderam enterrar seus mortos com dignidade. Em cada pessoa humana podemos contemplar o rosto de Jesus desfigurado por tanto sofrimento.


Mas também podemos contemplar, quem sabe levantando os olhos para o céu, e sentir estar envolvido pela saudade do Éden, o Jardim que Deus criou e onde colocou Adão e Eva e agora mais uma vez parece estar sendo curado do mal que fizemos a este Paraíso. Nesse mistério que ultrapassa nossa compreensão racional, ficamos a tatear algo para tornar inteligível a nós alguma resposta em meio a tantas incertezas, e algumas luzes parecem acender-se no meio de tanta escuridão.

São famílias que estão aprendendo o valor da convivência, o cuidado com cada pessoa humana, o sensibilizar-se com aqueles e aquelas que não podem ir para a casa pois estão nas ruas, a solidariedade oferecida às famílias que não possuem uma boa quantidade de alimentos.

O abraço, o beijo, o modo humano de manifestar o carinho para com o outro, agora, não é possível assim cumprimentar, e estamos a aprender o quanto vale cada gesto que fazíamos muitas vezes sem nenhuma consideração.

A chamada de atenção ao globo todo para rever prioridades. A salvaguarda da vida humana acima da economia. As questões envolvendo os posicionamentos dos governantes. O desafio de reconhecer a importância da ONU. O apoio irrestrito ao Ministério da Saúde. Tudo isso um aprendizado, uma lição que vamos fazendo.

Enfim, diante do mistério que nos envolve, observamos o mundo que já vai surgindo. As empresas descobrem o caminho do serviço home office, outras infelizmente vão à falência, e assim temos um grande número de desempregados. Uma nova realidade vai se construindo.

Aqui estamos todos nós, dentros da mesma barca, no qual Jesus conosco atravessa a tempestade. E diante do crucifixo “milagroso” imploramos aos céus que nos livre do mal da pandemia. E lançamos um olhar confiante à Mãe que protege o povo romano e o mundo inteiro.

E devemos continuar vivendo em paz. Buscar a serenidade que só Ele pode dar. Enquanto nossas preocupações e inquietações nos agitam pois queremos sair, Ele que pensamos encontrar fora está dentro de nós. Ensina a grande doutora da Igreja, Santa


Teresa de Jesus, que em tempos de desolação, o que não significa ausência de Deus, devemos ainda mais intensificar a vida de oração e a caridade.

Por isso, nesse momento, em que estamos a passar por esta “noite escura”, para dizer com São João da Cruz, procuremos, acima de tudo, cultivar amizade com o Senhor. A oração é um momento de estar com o Amigo. E neste sentido, não esquecer o que ensina Santo Inácio de Loyola: “Amar a Ti Senhor em todas as coisas e todas as coisas em Ti”.

O amor de Deus lança fora o medo. Só o amor de Deus pode nesse momento consolar-nos e tirar de nós a tristeza que o mau espírito pretende colocar. A experiência de encontrar o Senhor na oração é uma dádiva que podemos experimentar.

Na oração, conversando com Jesus, como um amigo conversa com outro, eu posso saborear em minha vida a Paz que Ele dá. Portanto, façamos nossas as palavras de Santa Teresa de Jesus e assim, abandonados em Deus, possamos atravessar este momento: “Nada te perturbe, nada te espante. Tudo, tudo passa, só Deus não muda. - A paciência tudo alcança - Nada te falta: com Deus no coração, só Deus, só Deus basta!”

O amor do Amado em nós, desperte em nós o desejo de amá-lo em cada pessoa humana, onde posso encontrá-lo, e de modo preferencial, entre os pobres, cujos rostos desfigurados pela fome e a dor, frutos da injustiça, estão a nos esperar para serem amados por nós.

Confiemo-nos ao Senhor, Ele é justo e tão bondoso! Sua justiça manifesta a misericórdia que derrama sobre o mundo e sua bondade nos alimenta a esperança. Cada dia que o Senhor nos concede seja vivido no amor e no perdão. E em nossa espera confiante rezamos ao Senhor dizendo: O Senhor está conosco, tudo vai passar e tudo vai ficar bem!

Pe. José Antonio Boareto


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