TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO: O QUE É?

TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO: O QUE É?

POSTADO EM 13 de Fevereiro de 2017

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   Já faz algum tempo me pedem para recolocar reflexão feita há anos sobre a Teologia da Libertação. Para as pessoas que me abordaram, o assunto continua sendo um campo minado, também por parte das nossas comunidades. Retorno ao assunto e, proximamente, pretendo refletir sobre outra visão teológica: a teologia da prosperidade. Com a vinda do Papa Bento XVI ao Brasil, os meios de comunicação - aqui e ali - afirmavam que ele reiteraria a condenação à “Teologia da Libertação” (atitude, aliás, já tomada pelo seu predecessor João Paulo II).            Gostaria de pensar um pouco sobre o assunto. Creio que muitos dos leitores não têm conhecimento mais amplo sobre este tema. Vamos recuar – um pouco - no tempo para buscar as raízes dessa teologia. Em palavras simples, recordemos que a teologia é a ciência que procura estudar o conjunto das verdades que fundamentam uma fé religiosa. A chamada “teologia da libertação” surge nos inícios da década dos anos sessenta principalmente na América Latina. Mas não somente por aqui. Na África e também na Índia temos pensadores que enveredaram por esse tipo de reflexão. Vivia-se a divisão do mundo entre a ideologia ocidental capitaneada pelos Estados Unidos e a ideologia comunista sob a égide dos países submetidos à União Soviética. Os países do terceiro mundo viviam democracias frágeis. Com a forte propaganda do perigo comunista, muitos países começaram a ter a presença dos militares nos seus governos. Estes tinham formação refletida nas forças armadas americanas (aliados na Segunda Guerra Mundial). A tensão da Guerra Fria estava no auge. Pipocavam aqui e ali levantes e manifestações populares (Hungria, Grécia, Chile, Brasil, Cuba, etc.). Os governos reprimem oposições. Países sob influência americana sufocam comunistas. Países de governo comunista perseguem os filo-americanos. Assim se classificavam companheiros e inimigos. Nos países submetidos ao sistema capitalista ocidental, diante da miséria e pobreza desses povos, começa uma reflexão teológica que utiliza o método marxista de análise social. As bases intelectuais são buscadas em Marx, Hegel, Gramsci, Lênin, Stalin e outros grandes teóricos. Para os que conhecem um pouco desta linha ideológica a teoria da luta de classes e da estruturação da vida econômica em alicerces de exploração era extremamente sedutora. E juntam-se a esta visão, no campo religioso, os dados da Sagrada Escritura que apontavam ao Deus libertador, que age na história do seu povo, vem em socorro aos marginalizados, “depõe do trono os poderosos e eleva os humildes” (Lc. 1,52).  Começa a caminhar na Igreja uma opção fundamental pelos pobres (vistos como os marginalizados de tudo) anunciada na reunião dos Bispos Latino-americanos em Medellín, Colômbia, no ano de 1968. Pastoralmente há trabalhos intensos para que o povo se organize e nas reflexões da fé não falte a prática para modificar a situação da miséria vivida. Se a intenção da teologia da libertação era fazer da fé um motor para a ação prática não haveria motivo para condená-la. Não se podia esquecer, porém, a pressão dos governos sobre a Igreja. Tanto entre o povo como para com a hierarquia. Sobre o Vaticano também. Outro fator que dificultava a compreensão do que estava acontecendo era a dificuldade de comunicação. Não havia a velocidade e a instantaneidade dos nossos dias. Entre o que se dizia aqui e o que chegava aos altos escalões aconteciam muitas coisas! E não se pode esquecer a diferença fundamental que havia entre Europa, América do Norte e países da América Latina, África, etc. Ainda estávamos na época em que as colônias estavam se libertando dos países que as dominaram... As necessidades da Igreja da Europa e América do Norte não eram as necessidades dos países pobres. E, naturalmente, o modo de pensar a missão da Igreja dependia das “lentes” que se usava. Agrava-se a situação porque, sem dúvida, alguns teólogos, no afã de levar adiante uma nova proposta teológica, deixaram de dar ênfase a certos pressupostos teológicos. Esta atitude começou a ser vista como negação de verdades fundamentais e pregação de princípios que não se coadunavam com a ortodoxia da fé: uma Igreja democrática e não marcada pela autoridade apostólica, um Cristo muito humano e pouco divino, certa liturgia mais política que espiritual, etc.. Com o pontificado de João Paulo II e sua experiência com a ideologia comunista, cresceu a linha de pensamento que dessacralizava até as raízes qualquer sonho que pudesse ser bom a partir de idéias socialistas. A “condenação” foi uma atitude tomada em relação ao pensamento que se ativesse aos aspectos sociais e econômicos não dando o mesmo relevo à parte espiritual. Não podemos esquecer que a política – no seu sentido amplo – é compromisso inerente da fé. Vale a pena lembrar, também, que toda teologia deve ser libertadora. Se não o for não serve para nada. Estamos num mundo concreto – dado a nós por Deus – para que se possa viver com dignidade. O que não corresponde a isso é pecado. E deve ser combatido. Portanto a fé deve ser libertadora. E a reflexão de como se coloca a fé em prática segue o mesmo caminho. No fundo não se pode esquecer que a base da vida cristã é a fé unida às obras (Tiago 2, 14ss.). E se existe injustiça entre nós ela deve ser combatida. Para finalizar: o que se condenou na teologia da libertação foi o fixar-se na dimensão humana. Penso, todavia, que essas situações não nos devem escandalizar. É preciso buscar sempre o diálogo para que a verdade venha à luz. No começo da Igreja o concílio de Jerusalém (Atos 15) teve que lidar com as dificuldades entre cristãos judeus e cristãos vindos do paganismo. Chegaram a um consenso. Que levou um bom tempo para tornar-se prática. Assim acontece com as diferentes posições de pensamento na Igreja. De vez em quando a paz se quebra porque o conflito se instala. O que não se pode quebrar é a unidade da fé em Jesus Cristo e o amor pelos irmãos. Resta-nos aprender a não causar sofrimento aos que pensam diferente. E ter sempre atitude de acolhida!


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