A evangelização num contexto de modernidade líquida

A evangelização num contexto de modernidade líquida

POSTADO EM 06 de Outubro de 2022

A evangelização num contexto de modernidade líquida

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Por meio das ações e discursos do Papa Francisco, Arnauld Join-Lambert, professor de teologia da Universidade Católica de Louvaina, na Bélgica, reflete sobre o paradigma missionário a partir do contexto de modernidade líquida no qual reconhece estarmos inseridos. Em uma sociedade líquida, a proclamação do Evangelho assume várias formas. Os paradigmas pós-Vaticano II encontram ressonância na concepção de missão da Igreja do Papa Francisco.

O conceito de fluidez ou liquidez de Zygmunt Bauman (1925-2017) tem sido adotado para explicar a perda da “solidez” institucional, ou seja, sua legitimidade e consequentemente o triunfo do indivíduo. É observável que estamos também em uma Igreja “líquida”, e portanto, devemos perguntar-mo-nos: Que missão é adequada para uma Igreja líquida em um contexto de modernidade líquida?

A questão fundamental, segundo Join-Lambert, não é tanto como a Igreja deveria estar estruturada, mas como ela deveria implementar a sua missão. Ele reconhece que existem vários modos de conceber a missão da Igreja e reconhece que ela é modelada pelo contexto. Vários paradigmas, podem coexistir em um único contexto, dependendo das escolhas dos líderes, em particular das suas escolhas teológicas.

Ele reconhece três novos paradigmas missionários identificados na Europa ocidental: a nova evangelização, a proposta da fé e o cuidado pastoral gerativo e descarta duas “velhas” opções: primeiro, a tentativa, presente nos círculos católicos tradicionais e tradicionalistas, de manter - a todo custo - aquilo que existiu por séculos no cristianismo, um modo de restaurar as coisas ao modo como certa vez foram. Para Join-Lambert essa atitude parece bem distante do estilo de Jesus Cristo expresso nos Evangelhos e abandona o chamado à missão por todos em direção a todos. E a outra opção, é a espiritualizante, que reduz a missão há um ministério “invisível” que consiste em partilhar as condições de vida de pessoas comuns.

Para o professor de teologia, fundamental foi reconhecer o esforço feito por São João Paulo II e Bento XVI com a nova evangelização. A abertura à evangelização para os movimentos e as novas comunidades favoreceram uma inovação radical quanto aos métodos missionários tradicionais. A novidade aberta com Bento XVI e a evangelização no “pátio dos gentios”, ou seja, anunciar o Evangelho na cultura, ofereceu a proposta do anúncio do Evangelho para “fora” e “fora”.

A Quinta Conferência Episcopal Latino-americano e do Caribe que foi realizada em Aparecida (Brasil) reconheceu que o desafio maior estava no desafio de paróquias comuns abandonarem o seu modo seguro, portanto, “sólido” de operar a fim de proclamar o Evangelho. O Papa Francisco já havia percebido essa dificuldade e a fez ecoar em suas palavras na Evangelli Gaudium, n. 33: “A pastoral em chave missionária exige o abandono deste cômodo critério pastoral: fez-se sempre assim. Convido todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades”

Para Join-Lambert estamos diante de um quarto paradigma missionário que pode ser denominado de “Igreja em saída” e ele pode ser compreendido a partir de uma conversão pastoral e missionária que não pode permitir que as coisas permaneçam como estão. O propósito da missão é, agora, “o outro” para si mesmo. O Papa nos convida a entrar no diálogo, mostrando o grande valor que o outro tem aos nossos olhos e aos olhos de Deus. O “ir ao encontro” não é necessariamente o retornar para “dentro”, mas sim como diz o próprio Papa Francisco no discurso do Conclave de 2013: “A Igreja está chamada a sair de si mesma e ir às periferias, não só as geográficas, mas também às periferias existenciais: as do mistério do pecado, da dor, da injustiça, da ignorância e prescindência religiosa, do pensamento, de toda miséria”.

Ao celebrar o Ano Jubilar Missionário, toda Igreja é Missão, e além de ser o tema da Campanha Missionária 2022 é uma convocação que compreende-se pelo lema, isto é, chamados e chamadas a ser suas testemunhas (Cf. At. 1,8). Que possamos “primeirar”, isto é, ter novas iniciativas, ousar ser criativos, como Igreja em saída ao encontro do outro. Somos desafiados pela Pontifícia Obras Missionárias (POM) a abrir-se à missão além-fronteiras (Ad Gentes) e a sermos um dom para uma igreja-irmã pobre que precisa da nossa solidariedade. Que as palavras do Papa Francisco ajude-nos a ousar e a sonhar com uma Igreja feita de discípulos missionários que levam o amor de Jesus em todo lugar e em qualquer caminho e assim vai tornando-se uma comunidade humana de salvação.


Pe. José Antonio Boareto


Referência bibliográfica:
JOIN-LAMBERT, Arnauld. A missão cristã no contexto da modernidade. A necessidade                da                diversidade.                Disponível                                   em: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/186-noticias-2017/572989-a-missao-crista-no-contexto-da-modernidade-a-necessidade-da-diversidade. Acesso em: 03 out. 2022.

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