I love Paraisópolis

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POSTADO EM 24 de Dezembro de 2017

I love Paraisópolis

Por Padre José Antonio Boareto

A realidade do nascimento de Jesus em nada se difere da realidade de tantos irmãos e irmãs. Muitos precisam sair de suas casas, pátrias, serem migrantes e refugiados.

Maria e José estão a caminho de Belém para fazer o recenseamento solicitado por César. E ela está para dar a luz. Quando chegam na cidade não encontram lugar na hospedaria e muito menos alguém que pudesse acolher.

Encontram somente um estábulo, um lugar que também já está ocupado, pois os animais vivem ali. Entretanto ali José ajuda sua esposa a dar a luz a Jesus.

Ele nasceu em Belém mas não numa casa, não num berço, nasceu envolto a palhas, junto dos animais. Ao mesmo tempo esse momento se reveste de simplicidade e mistério pois o filho de Deus nasceu.

Deus escolheu Maria e José mas também já dito pelos profetas escolheu Belém. E ainda escolheu o estábulo, quis as palhas, decidiu-se pelo simples.

A estrela brilha em cima do estábulo. O anjo anuncia aos pastores a notícia do nascimento. Um coro de anjos entoa um hino onde cantam Glória a Deus nas alturas e paz na terra as pessoas de boa vontade.

Três reis ao verem a estrela começam a segui-la e sabem que se trata do novo rei que nasceu. É uma noite feliz, noite maravilhosa, noite que se encheu de luz.

Todo ano nós fazemos memória deste acontecimento. E durante a história os cristãos e cristãs foram criando hábitos e costumes para celebrar esta data. Como não lembrar de São Francisco de Assis e a criação do presépio.

O mundo atual não é mais tão cristão. Nem todos professam a mesma fé. Vivemos num mundo plural. Outras religiões e outras concepções de mundo interagem. O mercado transformou o Natal na celebração da felicidade de consumo.

Muitas luzes, cores, tudo recorda que devemos renovar nossas vidas mas na perspectiva do sucesso. Claro que todos queremos ser bem sucedidos na vida mas a mensagem do Natal não é esta.

Quando olhamos para o presépio e ou lemos o evangelho que narra o nascimento de Jesus somos chamados e chamadas a contemplar a realidade da simplicidade e do mistério.

O estábulo, as palhas, tudo recorda a realidade de pobreza que envolve o nascimento de Jesus. Mistério tão imenso de amor. Ele desceu dos céus, se encarnou no seio da Virgem Maria e se fez homem. Viveu igual a nós exceto no pecado.

Esvaziou-se de si mesmo assumindo uma condição de ser pobre. Viveu na pobreza, era pobre, o totalmente pobre, portanto, o totalmente livre, o totalmente amor e doação.

No meio de tantas luzes coloridas nos shoppings, nas lojas e até mesmo presépios magníficos fica difícil encontrar o Menino Jesus envolto em palhas junto dos animais.

A mensagem do Natal não perdeu sentido. Nós é que estamos dando outros sentidos, o que não é de todo ruim. Entretanto não percamos a essência da mensagem. Ele é Emanuel o Deus Conosco que veio morar no meio de nós. Ele é a luz. Ele veio dissipar as trevas. Ele veio trazer a salvação. Ele é o amor e a paz.

Que a luz que resplandece do Menino Jesus brilhe sobre nós e nos torne também luz. Que possamos adorar a Jesus com todo nosso ser. E deixar ser convertido e convertida pela simplicidade e mistério do seu nascimento.

Que Ele nos conceda a graça de crescermos na glorificação Dele pelo testemunho de nossas vidas empenhadas na construção da paz.

Sejamos mais simples, mais humildes, mais amorosos, mais corajosos, mais misericordiosos. Acolhamos com fé o Cristo Senhor em nossas vidas. Estejamos sempre disponíveis a ajudar quem precisa, sobretudo os mais pobres.

Que a simplicidade e o mistério do Natal nos envolva numa contemplação que nos ajude a compreender a realidade de exclusão e desigualdade de tantos irmãos e irmãs que semelhante a Maria e José não encontram lugar na cidade e assim sensibilizados possamos nos comprometer cada vez mais em buscar uma maior igualdade de condições e oportunidades a todas as pessoas.

Belém é Paraisópolis hoje. Lugar onde podemos contemplar a expressão da exclusão e desigualdade brasileira. As pessoas que lá moram não encontram acolhida da cidade. E o que vemos é só um sintoma de uma causa ainda maior que tem suas raízes no racismo que vem do tempo da escravidão.

O Brasil é o terceiro país com maior índice de desigualdade social do mundo. As perspectivas políticas não são favoráveis a uma igualdade compreendida como equidade. As oportunidades não são as mesmas para todos.

Os preconceitos estão nas atitudes dos brasileiros e brasileiras que através de uma cultura piadista e de desprezo dos negros e pobres destilam seu ódio.

Que a luz do Menino Deus dissipe as trevas do individualismo, do racismo, do preconceito e do extremismo que corrói dentro de nós impedindo que sejamos envoltos pela luz que torna nosso coração aberto a fraternidade num espírito comunitário de respeito e diálogo com todos e todas e na perspectiva da paz.

Um Santo e Feliz Natal!

Que o Menino Deus te abençoe!

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