Homilia para o Dia de Oração pela Santificação do Clero
HOMILIA
Solenidade do Sagrado Coração de Jesus – Ano C
Dia de Oração pela Santificação do Clero – 27/06/2025
Irmãos!
- Na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, o profeta Ezequiel nos ajuda entrar no mistério, na dimensão do amor com que o Senhor tratou Israel, ainda criança, nas suas origens – amor, porém, não correspondido pela indiferença e ingratidão. Quanto mais o Senhor buscava e chamava Israel mais ele se afastava, se tornava rebelde e corria atrás dos ídolos.
- Foi ele que o tomou nos braços, como faz o pastor com suas ovelhas, dispensou cuidados, buscou atraí-lo com vínculos humanos, laços de amor e feição materna. Jamais o abandonou e, mesmo diante da maldade do seu povo – povo eleito, não desistiu. Falou mais alto o seu coração que, foi capaz de se comover, revelando a pedagogia da misericórdia. O coração de Deus é um coração capaz de se comover, derramar o seu amor, não ser como os maus pastores, de ontem ou de hoje, que exploram e abusam do povo, dispersando-o.
- O coração comovido de Deus (até às entranhas) – resplandece no coração traspassado do crucificado, aquele mesmo que se deixou dar a si mesmo, pois “amou até o fim”. O Filho que assume o amor aniquilado, afim de derrotar o mal e restituir a dignidade aos seres humanos, que o pecado tornou escravos, como fez o Pai misericordioso que ouvimos na parábola de Lucas.
- Queridos irmãos presbíteros:
- Contemplemos, rendamos graças pelo nosso sacerdócio que, outra coisa não pode ser, senão, o amor do coração de Jesus. Lembremos: do seu coração brotou o dom do nosso ministério sacerdotal, de nossa parte sem mérito algum, porém, de nós exigindo, como Ele, fidelidade e amor.
- Formemos cotidianamente o nosso coração a partir do coração de Jesus, coração humano e divino, da ciência e do conhecimento do seu amor. Configuremos o nosso coração ao coração sacerdotal e pastoral de Jesus, vivendo com alegria esse mistério colocado em nossas mãos. Sejamos homens da experiência do Deus vivo, verdadeiramente humanos, capazes de como ele, nos comover com o sofrimento dos irmãos e irmãs a nós confiados, educadores, apaixonados, sintonizados com a vida do nosso povo, fazendo-o chegar a Deus. É isso que o povo espera de nós. Não da para ser presbítero de outro modo.
- Como presbíteros cuidemos de nós mesmos, tendo os mesmos sentimentos de Jesus. Tenhamos apreço pela comunhão, abrindo brechas para alteridade, e se for possível, indo além, abrindo portas. Respeitemo-nos uns aos outros, não falemos mal de nós mesmos, não exponhamos nossas fragilidades e queiramo-nos bem, só assim poderemos cuidar bem do povo a nós confiado. Nunca nos falte a caridade pastoral, nosso ofício por excelência, de modo que o nosso eu, em nossas diferenças, o que é uma riqueza, revele o eu sacerdotal de Jesus.
Não nos esqueçamos: nosso sacerdócio não está a serviço de nós mesmos, de nossas ideologias pobres, excludentes, manipuladoras, do nosso egoísmo e isolamento, da Igreja que imaginamos, segundo nossos interesses, julgando muitas vezes que nos bastamos a nós mesmos, mas a serviço da Igreja querida por Jesus, e do povo, especialmente os pobres e os últimos. Livremo-nos de nossa prepotência, sejamos homens de Igreja e com a Igreja. Voltemo-nos aos que anseiam e querem ver em nós a imagem do próprio Jesus. Nunca afastemos ou prejudiquemos os outros, sobretudo, aqueles que somos chamados a salvar, como pede o Papa Leão; somos chamados a curar as feridas do nosso povo, recuperando assim nossa credibilidade, que está baixa, muito em baixa. Como estamos rezando: A Eucaristia, a Liturgia das Horas, as nossas fragilidades, alegrias e tristezas? Quanto tempo damos a leitura e a meditação da Palavra, ou as redes sociais é que ocupam hoje o seu lugar? Recorramos a mãe de Jesus. Ela é nossa mãe, a mãe que quer seus filhos felizes e realizados.
“Ó inefável beleza do Deus altíssimo e puríssimo esplendor da luz eterna, vida que vivifica toda a vida, luz que ilumina toda luz e conserva em perpétuo esplendor a multidão dos astros, que desde a primeira aurora resplandecem diante do trono da vossa divindade. Ó eterno e inacessível, brilhante e suave manancial daquela fonte oculta aos olhos de todos os mortais! Sois profundidade infinita, altura sem limites, amplidão sem medidas, pureza sem mancha!” (São Boaventura, Séc. XIII).
† Sérgio
Bispo Diocesano