A Lavagem das escadarias da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos em Bragança Paulista

A Lavagem das escadarias da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos em Bragança Paulista

POSTADO EM 29 de Setembro de 2025

Image title 

 

A ABUC (Associação Bragantina de Umbanda e Candomblé) e o Grupo Inter-religioso de Bragança Paulista por meio da Comissão Diocesana para o Ecumenismo e Diálogo inter-religioso, e,  com o apoio da Diocese de Bragança Paulista através da Paróquia Catedral Nossa Senhora Imaculada Conceição realizam a 1ª Lavagem das escadarias da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos em Bragança Paulista. 

Há dezoito anos o Dia Nacional de Ação de Graças ocorre no município como um momento de agradecimento a Deus por mais um ano de louvor e serviço ao bem comum. Atualmente os líderes religiosos de Bragança Paulista e região têm se encontrado em reuniões periódicas onde buscam organizar uma agenda de compromissos anuais. A partir de um projeto que promova uma cultura de paz através de iniciativas educativas, o grupo, têm procurado estudar e compreender melhor as necessidades reais de cada comunidade religiosa. 


Considerando o entendimento de que promover a paz é empenhar-se em prol do bem comum entendido como garantir os direitos humanos fundamentais de cada pessoa, inclusive o direito à liberdade religiosa, o grupo foi através do diálogo e o aprofundamento dos estudos entendendo cada vez mais a necessidade de ações que combatesse a intolerância religiosa. O ato da lavagem expressa essa cultura de paz através de uma ação anti-racista, pois a intolerância religiosa é verdadeiro racismo religioso para alguns grupos, sobretudo, de matriz africana. 

Bragança Paulista, historicamente, expressa a resistência de um povo que soube em meio à colonização, se organizar e articular uma espécie de previdência social para os negros - uma ação pioneira naquele tempo - o club social dos negros. E ainda em tempos de colonização se organizaram em irmandades católicas, e, também através do clube recreativo, fizeram nascer a escola de samba. Entretanto, sabemos que infelizmente mesmo com a abolição, ainda perdura entre nós o racismo que se faz reconhecer em situações muito corriqueiras do cotidiano e quando, por exemplo, suas crenças são demonizadas e subjugadas. Sabemos do desafio do acesso à direitos fundamentais a esta população. Enfim, sensíveis ao clamor deste povo, e não sendo indiferentes, o grupo inter-religioso juntamente com a Diocese de Bragança Paulista reconhecem que é importante sinalizar o caminho da fraternidade e da amizade social como possibilidade de convivência comum. 


E para nós católicos, esta atitude está intrinsecamente relacionada com os princípios que norteiam o diálogo da Igreja Católica com as religiões não-cristãs através da Declaração “Nostra Aetate” que agora no dia 28 de outubro fará 60 anos. Alguns ensinamentos fundamentais aprendemos deste texto conciliar: 1) Toda pessoa humana tem sua origem e finalidade em Deus; 2) A Igreja Católica nada rejeita do que nessas religiões existe de verdadeiro e santo; 3) Com prudência e caridade, diálogo e colaboração, dando testemunho de fé e vida cristãs, reconheçam, conservem e promovam os bens espirituais e morais e os valores sócio culturais que entre eles se encontram; 4) Não podemos invocar Deus como Pai comum de todos, se nos recusamos a tratar como irmãos alguns homens; 5) A Igreja reprova como contrária ao espírito de Cristo toda e qualquer discriminação ou violência praticada por motivos de raça ou cor, condição ou religião. 


A Declaração convida-nos ainda a observar uma boa conduta no meio dos homens (cf. 1 Ped. 2,12), e se, possível, ter paz com todas as pessoas, quanto deles depende, de modo que sejam na verdade filhos do Pai que está nos céus. Para nós, o “imperativo categórico” é o amor, ele é que precisa ser prioridade. Por isso, esta iniciativa como outras estão dentro do espírito cristão, enquanto compreendemos que a caridade cristã é justamente amar sem discriminações ou violência de qualquer tipo e à qualquer pessoa, pois somos irmãos, filhos do mesmo Pai, próximos e semelhantes. Promover uma cultura de paz é o que se pretende com esta iniciativa, um convite a acreditar que seja possível e re-imaginar uma utopia necessária em nosso tempo, a urgência de superar o racismo e a desigualdade social. Enfim, a lavagem é um sinal dessa fraternidade, deste caminhar, pois não há caminho para a paz, a paz é o caminho. 


E sobre a lavagem, dizer que esta tradição surgiu no ano de 1773, quando a Igreja do Bonfim em Salvador na Bahia foi oficialmente consagrada. Os negros escravizados eram responsáveis por limpar a igreja antes da grande festa do Senhor do Bonfim. E em um ato de fé eles recorriam também a Nossa Senhora do Rosário, que os ajudava a alcançar inúmeras graças. A limpeza era feita usando água, ervas cheirosas e cantos tradicionais apreendidos da sabedoria ancestral africana. A lavagem é um ritual de fé, cultura e resistência, onde o povo negro expressa sua espiritualidade de forma alegre e acolhedora. E, hoje, ela reúne também as outras religiões e todas as pessoas de boa vontade que reconhecem que através do respeito podem conviver melhor e em paz. 


No dia de São Francisco de Assis, somos chamados pelo “instrumento da Paz” a sermos sinais dessa “fraternidade universal”, convidados a reconhecer que somos todos irmãos e a cuidar da criação, nossa Casa Comum. Que o Senhor nos dê a sua Paz,  para que  levemos ao mundo a sua PAZ e o BEM. E assim, poderemos ouvir sermos chamados de bem-aventurados ou filhos de Deus, irmãos uns dos outros, pois bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Que Nossa Senhora do Rosário dos Pretos conceda muitas graças a todos os seus filhos e filhas, pois ela é a Mãe que ama e cuida de todos, todos, todos. 

 

Pe. José Antonio Boareto

Assessor para a Dimensão do Ecumenismo e Diálogo inter-religioso de Bragança Paulista

© Copyright 2025. Desenvolvido por Cúria Online do Brasil