Homilia na Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria - 08 de Dezembro de 2020

Homilia na Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria - 08 de Dezembro de 2020

POSTADO EM 15 de Dezembro de 2020

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Homilia na Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria

8 de dezembro de 2020

           “Alegra-te cheia de graça! O Senhor é contigo” (Lc 1,28)

               Irmãos e Irmãs!

                    Celebramos hoje, com toda a Igreja, a Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria, a mulher que, cheia de graça, acolheu generosamente o convite de Deus, e concebeu, por obra do Espírito Santo, o menino que foi chamado Filho de Deus. É o novo início que se põe para toda a humanidade, decaída pelo pecado, mas que encontrou graça diante de Deus, no seu Filho, Jesus Cristo. Nele, “nos tornamos herdeiros, fomos predestinados para o louvor da sua glória, nós que esperávamos em Cristo” (Ef. 1, 11-12). Assim, o mal, devido ao pecado – pecado original, não tem a última palavra, não pode ser vitorioso. Embora viva os desafios do tempo presente, o ser humano e toda a criação estão para o Reino de Deus e sua justiça, em que tudo é redimido, torna-se santo.

                                A solenidade que celebramos apresenta “Maria como primeiro ser da criação totalmente livre do pecado original. A 8 de dezembro de 1854, o Papa Pio IX, pela Bula Ineffabillis Deus, proclamou solene e oficialmente o que o povo cristão já acreditava: ‘No primeiro instante de sua conceição, pela graça e pelo privilégio de Deus todo poderoso e em consideração aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, a Virgem Maria foi preservada e isenta de toda mancha do pecado original. Não só. Ela foi cumulada de tantas graças e de tanta perfeição que não se pode imaginar maior depois de Cristo e de Deus’”.

                                       Recorrendo ao texto sagrado no livro do Gênesis, livro das origens, nos deparamos com a ação do Criador que tudo fez como expressão do bem, para o seu louvor e de sua glória, tendo como ápice a criação do homem que, não acolhendo o Projeto do Criador para a vida e para a liberdade, se deixou levar pela autossuficiência.

                                        A autossuficiência é o pecado do querer ser igual a Deus, não o reconhecendo como Senhor absoluto e criador de todas as coisas. É o fechamento e o egoísmo que transformam as relações de comunhão e de fraternidade em relações de dominação e opressão, tanto entre as pessoas quanto com a natureza, relações que atingem tal nível de deterioração que levam o ser humano a esconder-se do seu Criador, experimentando a sensação de estar nu, sem perspectiva. A nudez é a forma que a história encontrou para mostrar que, quando dá livre curso à sede de autossuficiência, o ser humano acaba desprotegido, pois pode devorar seu semelhante ou ser devorado por ele. As relações com Deus, portanto, tornam-se de medo e fuga, pois ele se tornou um inimigo.

                                          Consideremos agora a pessoa de Maria. Ela foi isenta e preservada do pecado original, não por mérito próprio, mas por graça de Deus. Ele a fez com a marca da bondade, sem nenhuma ambiguidade, totalmente aberta para Ele, livre de todo egoísmo, pedindo sua colaboração para um novo começo.

                                            Em Maria vislumbra-se novamente o paraíso perdido, o Reinado de Deus, e o Criador torna-se horizonte para toda a humanidade. Ela pertence ao novo mundo recriado por Deus. Ela é Imaculada por ação de Deus e representa a mais completa redenção realizada por Jesus. Vivendo como todas as mulheres as circunstâncias do seu tempo, por graça de Deus permaneceu isenta do pecado, “cheia de graça” (Lc 1,28) e “bendita entre as mulheres” (Lc 1,42), livre para Deus e para as verdadeiras tarefas no mundo. Mulher simples, do meio do povo, também ela aguardando a manifestação do Altíssimo para o cumprimento das promessas do passado e a condução da história à sua plenitude – o “novo céu e a nova terra” (Ap 21,1).

                                   Em Maria, portanto, a máxima realização da existência cristã, paradigma para toda a humanidade, modelo perfeito na obediência à vontade de Deus. Com ela aprendemos a peregrinar pelas estradas da vida. Com ela aprendemos a existir em Cristo e n’Ele encontrar nossa verdadeira identidade. Com ela aprendemos a resistir e a permanecer em pé nos momentos de dor e sofrimento, como neste tempo de pandemia, em que somos chamados a escutar a realidade e a responder às perguntas que são muitas, levando-nos a discernir o que realmente é importante para o mundo.

                               A pandemia nos silenciou, nos distanciou e mostrou quão grande é nossa fragilidade, mas Deus está presente, está falando e nos interrogando, dando-nos a oportunidade para juntos construirmos um mundo de acordo com seu Projeto original: vida, liberdade, comunhão. Com Maria, fixemos o nosso olhar no mistério de amor que brota do alto da cruz e que nos faz vislumbrar já, agora, a plenitude da maturidade cristã, vivendo este tempo de pandemia como oportunidade para promover mudanças. Nós podemos mudar. Mudar nosso coração, nossos interesses mesquinhos, nossas perspectivas, enfim, o modo como vivemos e nos relacionamos. Ou nada vai mudar?

                               Em um dos últimos ensinamentos do Papa Francisco, na Encíclica Fratelli Tutti, ele disse que estamos todos no mesmo barco, onde o Senhor está presente, e que ninguém se salva sozinho. Não vale o “salve-se quem puder”, porque, se assim for, estaremos todos contra todos. Se o momento é desafiador, o chamado é para que toda a humanidade se encontre na antiga e nova solidariedade. 

                                       A mãe de Jesus, mãe da Igreja, “mãe do Evangelho vivente, manancial de alegria para os pequeninos” (Evangelii Gaudium – oração final) que nos acompanhou ao longo desses noventa e cinco anos, rogue por nós. Amém.

                     

† Sérgio

Bispo Diocesano

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