Orientações litúrgico-pastorais para o Ciclo Pascal 2019

Orientações litúrgico-pastorais para o Ciclo Pascal 2019

POSTADO EM 18 de Fevereiro de 2019

Por. Dom Sérgio Aparecido Colombo

Orientações litúrgico-pastorais para o Ciclo Pascal

                                                                      Bragança Paulista, 11 de fevereiro 2019

                                                                      Memória de Nossa Senhora de Lourdes

                                                                      

“... Partindo da Palavra do Senhor: ‘Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus’ (Mt 5, 9), sejam abandonadas todas as discussões que provêm das discórdias e dos ódios; que ninguém imagine poder tomar parte na festa pascal se negligenciar o restabelecimento da paz fraterna. Com efeito, junto ao Pai supremo, aquele que não estiver no amor dos irmãos, não será contado no número dos filhos. Tanto pela distribuição das ESMOLAS, como pelo cuidado com os pobres sejam enriquecidos os JEJUNS dos cristãos; e aquilo que cada um tirou dos seus prazeres, que apliquem em favor dos mais fracos e dos indigentes. Que se cuide para que todos bendigam a Deus com uma só voz, e o que dá uma parte de sua riqueza, saiba que é ministro da misericórdia divina, que pôs nas mãos do doador a parte do pobre; de tal que os pecados que são lavados quer pelas aguas do batismo, quer pelas LÁGRIMAS da PENITÊNCIA sejam apagados também pelas esmolas, de acordo com a Palavra da Escritura: ‘da mesma maneira que a água extingue o fogo, assim também a esmola extingue o pecado’. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que com o Pai e o Espírito Santo, vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém” (São Leão Magno – Papa, 11º Sermão sobre a Quaresma).

TEMPO DA QUARESMA – TEMPO DE FRATERNIDADE

“... A Quaresma é um tempo favorável para os cristãos saírem da própria alienação existencial. A força do Evangelho desperta para a grandeza e para a profundidade da vida em Cristo. Graças à escuta da Palavra de Deus, somos levados a intuir a preciosidade da existência cristã e vivermos na liberdade e na verdade de sermos filhas e filhos de Deus. O tempo favorável é a possibilidade de nos deixarmos tomar pelo amor do crucificado e pela transformação do ressuscitado” (Texto base da CF, nº 1). Motivados pelas obras de misericórdia corporais e espirituais, somos convidados a nos libertar dos ídolos do saber, do poder e do possuir, para entrarmos no caminho da comunhão, solidariedade, caridade, fraternidade, proximidade, samaritanidade, como conversão pessoal e comunitária, colaborando na concretização de políticas públicas, como mediação para uma nova sociedade com oportunidade, dignidade e direito para todos.

A sobriedade e o despojamento, com a ausência de flores na ornamentação do espaço celebrativo, marcam o estilo de vida da comunidade nesse tempo de caminhada para Páscoa. Colocar em lugar visível o cartaz da Campanha da Fraternidade 2019.

A cor litúrgica roxa não é sinônimo de tristeza, mas da austeridade própria do tempo. Pode ser usada a cor rósea no Domingo Laetare – Quarto Domingo da Quaresma, “próximo ao grande dia”.

Quarta Feira de CINZAS e Sexta Feira Santa são dias de JEJUM e ABSTINÊNCIA. “...As cinzas evocam nossa condição humana: ‘...tu és pó e ao pó hás de tornar (Gn 3,19)’, como também é apelo à conversão: ‘arrependei-vos e acreditai na Boa Nova (Mc 1,15)’. Como porta que se abre para a Quaresma, as cinzas nos impulsionam para o restabelecimento de nossa dignidade de filhos e filhas de Deus, chamados a uma vida nova, enquanto caminhamos na precariedade da condição humana, nós que batizados no novo Adão, Jesus Cristo, somos o pó precioso aos olhos de Deus, porque ele nos criou e destinou-nos à imortalidade...” (Bento XVI – Pregações para o Ano Litúrgico – Ano C). 

 ATENÇÃO: As cinzas são confeccionadas com Ramos e Palmas do ano anterior.  O gesto de imposição da mesma, seja realizado após a homilia, omitindo-se o Credo.            

A espiritualidade quaresmal e a Campanha da Fraternidade, com o tema: “Fraternidade e Políticas Públicas”, e o lema: “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27) “... nos remetem às obras de misericórdia, corporais e espirituais, lembrando que não podem ser separadas e que nos ajudam na comunhão, na solidariedade, na caridade, na fraternidade, na proximidade e na samaritanidade. A partir delas nos identificamos com Cristo e assim vamos tornando autêntica nossa vida cristã. Somos convidados na Quaresma ao exercício das obras de misericórdia como caminho de conversão pessoal, comunitária e social...” (Texto – Base da CF, números 3 e 4).   

Na Quaresma, a liturgia despede-se dos cantos: ALELUIA E GLÓRIA, convidando-nos ao recolhimento, reflexão e ao despojamento do supérfluo. É um tempo de germinação silenciosa que conduz à alegria da Páscoa do Senhor.

ATENÇÃO: Na solenidade de São José, dia 19 de março, terça – feira, pode-se recitar ou cantar o hino de louvor.

Moderar a altura dos instrumentos. Eles têm a finalidade de sustentar discretamente o canto.  O uso descomedido e inconveniente dos mesmos, sobretudo, da bateria, tem feito muito barulho e prestado, muitas vezes, um desserviço à Liturgia. Pedimos não usá-la, sobretudo, no tempo da Quaresma. A liturgia, mormente a Eucaristia, não é espetáculo, entretenimento, um bate palma desmedido e sem sentido, mas a celebração do Mistério de Cristo no tempo. “A liturgia não é o ‘campo do faça por sua conta’, mas a epifania da comunhão eclesial. Por isso, nas orações e nos gestos ressoa o ‘NÓS’ e não o ‘EU’; a comunidade real, não o sujeito ideal. Quando se relembram nostalgicamente tendências passadas ou querem impô – las novamente, corre – se o risco de antepor a parte ao todo, o eu ao povo de Deus, o abstrato ao concreto, a ideologia à comunhão e, na raiz, o mundano espiritual” (Discurso do Santo Padre Francisco aos participantes da Assembleia plenária da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos).

Durante a Quaresma, valorizar o Ato Penitencial, usando a criatividade nos gestos (ajoelhar-se, inclinar-se, ...). Embora não tenha a força de sacramento, o mesmo exprime a “...consciência de pertencer desde já ao mundo novo nascido da morte e ressurreição de Jesus, e a necessidade de acompanhar com perseverança e humildade o processo ainda incompleto da nossa conformação a Cristo, o homem novo...” (Roteiro Homilético para Quaresma – Ano A, 2017).

A Palavra de Deus seja proclamada do livro – Lecionário, que são as lições selecionadas pela Igreja, para os ciclos da Liturgia, Anos A,B,C. Se houver Evangeliario, mas não houver diácono o leitor pode sustentá-lo um pouco mais elevado, na procissão de entrada.

ATENÇÃO: O lecionário não faz parte da procissão de entrada.

Insisto: É fundamental a preparação dos leitores, para que a Palavra de Deus seja proclamada, acolhida com alegria e compreendida por todos os que estão na assembléia, não simplesmente

lida, e às vezes, muito mal, sem sentido. “... A proclamação litúrgica da palavra de Deus, principalmente no contexto da assembleia eucarística, não é tanto um momento de meditação e de catequese, como, sobretudo, o diálogo de Deus com seu povo, no qual se proclamam as maravilhas da salvação e se propõem continuamente as exigências da Aliança...” (EG, Nº137). “... O silêncio hoje é o grande ausente. Ele é condição essencial para colocar-se na escuta sincera do Senhor, da sua voz que sobe do íntimo da consciência, da sua Palavra meditada e rezada, bem como através dos acontecimentos. Cuidar dos momentos de silêncio durante as celebrações: ao inicio, para entrar bem na celebração, depois das leituras ou da homilia, e depois da comunhão. Evitar excessivas explicações durante a celebração. Deixar falar o RITO.

Valorizar o Salmo Responsorial, parte constitutiva da liturgia da Palavra. O mesmo pode ser recitado ou cantado, do Ambão ou Mesa da Palavra. Não vale qualquer canto de meditação. Atenção: Consultar o Hinário-Litúrgico da CNBB, volume II, o CD próprio da Quaresma. Todo povo deve cantar a Liturgia, e não apenas um grupo de privilegiados, como tenho observado em algumas paróquias da Diocese. Na Quaresma é oportuno usar as Orações Eucarísticas da Reconciliação,  mais indicadas para esse tempo.

Atenção para a homilia “... A homilia é ação simbólica assim como cada momento da liturgia da palavra... Ela deve fazer arder os corações, abrindo-os a conversão, à transformação pessoal e comunitário – social...” (cf. Liturgia em mutirão – subsídios para formação – CNBB, páginas 113 – 114).     

A oração da CF pode encerrar as preces dos fiéis que não podem ser omitidas. Pode ser recitada após a oração pós – comunhão.

Toda Comunidade Eclesial deve ser esclarecida e motivada, desde o começo da Quaresma para o gesto concreto da CF.  São  muitos  os  modos  de  penitência,  partilha e solidariedade que podem colaborar para que a Igreja em todo o Brasil continue concretizando projetos de ação evangelizadora na perspectiva social, sobretudo nas regiões mais carentes, formandos presbíteros, agentes de pastoral e construindo espaços para reunir o povo.

O gesto concreto da CF que pertence à Diocese será aplicado na formação de Agentes das Pastorais Sociais, mormente de lideranças paroquiais, ou na ajuda de algum projeto afim (CF/2019) a ser encaminhado pela Pastoral Social Diocesana. Estamos encaminhando dois projetos. Os desafios são muitos. Tudo dependerá de nossa oferta generosa. É a dimensão social de Quaresma. Todos devem fazer a sua oferta no Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, dia 14 de abril de 2019, fruto da penitência quaresmal e não simplesmente uma esmola. Nenhuma Paróquia ou Comunidade pode omitir-se. Lembramos ainda a importância da coleta para os Lugares Santos, realizada na Sexta-Feira Santa, e que tem colaborado para dirimir situações que envolvem refugiados e comunidades cristãs perseguidas, a começar da própria Terra Santa.

ATENÇÃO: É desagradável ao Bispo, ter que lembrar algumas paróquias de que devem enviar para a Cúria, no tempo previsto, a coleta realizada.

 Peço aos irmãos presbíteros que participem do mutirão para as confissões, já programadas nas regiões pastorais.

Incentivar a Quaresma e a CF em FAMÍLIA com o exercício quaresmal privilegiado para esse tempo: a Via Sacra da Fraternidade.

A CF precisa acontecer fora dos ambientes eclesiais. Os presbíteros e agentes de pastoral empenhem-se para que a mesma aconteça junto às Escolas, Ambientes de Trabalho, nos Meios de Comunicação Social, Centros de Poder e de Decisão, Grupos da Sociedade, espaços relacionados à juventude e, onde for possível, junto a irmãos de outras Igrejas Cristãs.

O lançamento da CF pode ser feito na semana anterior à Quarta-Feira de Cinzas, com a presença da Comunidade, Autoridades, Membros de outras Igrejas Cristãs, MCS, etc. Nesta oportunidade, apresentar os objetivos da CF e todo material catequético-litúrgico.

“Pode se conservar o costume de cobrir as imagens da Igreja, a juízo das Conferências Episcopais. As cruzes permanecerão veladas até o fim da Celebração da Paixão do Senhor, na sexta-feira santa. As imagens, até o inicio da Vigília Pascal”. (Instrução Geral do Missal Romano). Se alguma comunidade desejar fazer este gesto, faça – o na Vigília do quinto Domingo da Quaresma (no Sábado da quarta semana da Quaresma). ATENÇÃO: As imagens não são descobertas durante o hino de louvor no sábado santo. Esse gesto era feito no rito romano – rito tridentino. Elas devem ser descobertas antes do inicio da Vigília

Pascal. Lembremo-nos sempre de que a Liturgia não é propriedade nossa, e que não podemos submetê-la a vexames, ou desejo pessoal.

SEMANA SANTA E TRÍDUO PASCAL

“...O que comemoraremos nos próximos dias é o confronto supremo entre a luz e as trevas, entre a vida e a morte. O início do Tríduo Pascal é a quinta- feira santa, onde a missa crismal (em nossa Diocese por razões pastorais antecipada para quarta – feira), é considerada como preludio do Tríduo Sacro. No cenáculo o redentor quis antecipar no sacramento do pão e do vinho transformados no seu Corpo e no seu Sangue, o sacrifício da sua vida: ele antecipa sua morte, entrega livremente sua vida, e oferece o Dom definitivo de Si à humanidade. A sexta – feira santa comemora os eventos que vão da condenação à morte até a crucificação de Cristo. É um dia de penitencia, de jejum e de oração, de participação na Paixão do Senhor. O sábado santo é o dia em que a liturgia silencia, o dia do grande silencio, e os cristãos são convidados a guardar um recolhimento interior, muitas vezes difícil de manter nesse nosso tempo, para se prepararem melhor para a Vigília Pascal...” (Bento XVI – Pregações para o Ano Litúrgico – Ano C).           

Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor. A Benção e a Procissão dos Ramos são inseparáveis. Onde não houver procissão e Celebração Eucarística, não pode haver Benção dos Ramos (cf. Diretório Litúrgico – anotações para Domingo de Ramos na Paixão do Senhor).

ATENÇÃO: Na solenidade da Anunciação do Senhor, dia 25/03, na Celebração Eucarística recita – se o glória, o credo e o prefácio próprio.

Para MISSA do CRISMA, dia 17 de abril de 2019, quarta-feira, às 19h30, na Sé Catedral, os párocos devem estar acompanhados com representantes leigos e leigas das respectivas paróquias, lembrando o caráter REAL, PROFÉTICO e SACERDOTAL de todo o Povo de Deus.  É a celebração solene por excelência, da Diocese. Na mesma os presbíteros renovam os seus compromissos sacerdotais e pastorais.

ATENÇÃO: A sobra dos santos óleos “dos anos anteriores” pode ser queimada ou lançada sobre a terra (se for o caso, enterrada).

Na Quinta-Feira Santa, no final da celebração, não há benção final e nem procissão solene com o Santíssimo Sacramento na custódia ou ostensório. O tabernáculo deve estar vazio no início da celebração e, serem consagradas partículas para a própria celebração e para a comunhão na Sexta-Feira Santa. A reserva eucarística (que servirá para a comunhão dos fiéis na Solene Ação Litúrgica na celebração da Paixão do Senhor) deve ser transportada numa âmbula maior coberta pelo véu umeral usado pelo sacerdote na transladação, até o local (capela, salão...) devidamente ornado, para a reposição. Onde houver a URNA, a reposição da âmbula com as espécies consagradas, seja efetuada na mesma. No lugar da urna, pode ser usado um sacrário maior. Onde não for possível nem urna e nem sacrário maior, a âmbula com a reserva eucarística permaneça coberta com um véu (conopéu) como é costume em nossas paróquias. Neste dia também não há exposição solene do SSmo. Sacramento. Os fiéis sejam exortados a fazer pelo menos uma hora de vigília, na quinta-feira, após a celebração da Ceia do Senhor, ou na sexta-feira pela manhã, em profunda comunhão com o Senhor em sua Paixão.

Para a celebração litúrgica solene da Paixão do Senhor, na sexta-feira santa, a partir das 15 horas, os sacerdotes e diáconos revistam-se dos paramentos como para a Missa. A cor é a vermelha, ressaltando a realeza e o martírio de Jesus (cf. IGMR).

Preparar o espaço celebrativo para a Solene Vigília Pascal – “mãe de todas as vigílias”.

ATENÇÃO: “Começando nas trevas do pecado e da morte, das quais o homem nunca sai completamente, a benção do fogo é toda dirigida ao Círio Pascal, que representa Cristo, principio de salvação. Na chama do Círio resplandece o fulgor do Ressuscitado, no qual todo homem deve iluminar-se” (A.G. Martimort , Igreja em Oração – Introdução à Liturgia). O Círio Pascal seja ornamentado, permaneça junto ao ambão, aceso em todas as celebrações do Tempo Pascal, apagado solenemente na missa vespertina do Domingo de Pentecostes, levado para junto da Pia Batismal e aceso nas celebrações do Batismo, Crisma e primeira Eucaristia.

O Tríduo Pascal são os três dias de Cristo Crucificado, morto e ressuscitado.  Ele constitui-se numa unidade: tem início com a Solene Missa Vespertina da Ceia do Senhor, como centro a Vigília Pascal e, encerra-se com as vésperas do Domingo da Ressurreição. Na Comunidade onde houver a celebração da Ceia do Senhor, deve haver a Solene ação Litúrgica na Paixão do Senhor e a Vigília Pascal. Os Ministros Leigos da Palavra e do Culto, nas suas respectivas comunidades, com anuência do Pároco, podem realizar o Tríduo Pascal, com as adaptações litúrgicas necessárias.

TEMPO PASCAL

“... A celebração da Páscoa continua durante o tempo pascal. Os cinquenta dias que vão do Domingo da Ressurreição até o Domingo de Pentecostes, são celebrados com alegria e como um só dia festivo, antes como o ‘grande domingo’. Os domingos deste tempo devem ser considerados como ‘domingos de Páscoa’ e tem precedência sobre qualquer festa do Senhor e qualquer Solenidade. As solenidades que coincidem com estes domingos são celebrados no sábado anterior. As festas em honra da bem aventurada Virgem Maria ou dos Santos, que ocorrem durante a semana não podem ser transferidas para estes domingos” . ( Paschalis Sollemnitatis: A Preparação e Celebração das Festas Pascais – Congregação para o culto divino, nº 100 – 101).

No tempo da Quaresma, na Paixão do Senhor, na Vigília pascal e dia de Páscoa, no tempo pascal, na Ascensão do Senhor e Pentecostes, utilizar as bênçãos solenes propostas no Missal Romano. 

O mistério Pascal e o Tríduo Sacro não são a recordação de uma realidade que passou, mas realidade atual: Cristo venceu com seu amor o pecado e a morte. Ele é o Vivente, o Senhor. Vivamos também nós com ele.


Dom Sérgio Aparecido Colombo

Bispo Diocesano

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