O Mistério da Santíssima Trindade

O Mistério da Santíssima Trindade

POSTADO EM 07 de Junho de 2017

Por. Monsenhor Giovanni Barrese

Permito-meretomar escrito de algum tempo atrás. Mesmo porque me parece que não saberia o que acrescentar. E creio que traz o essencial sobre o tema e sobre a finalidade desta página.

Comoque fechando o ciclo pascal (embora “oficialmente” ele termine em Pentecostes),a Igreja celebra a festa da Santíssima Trindade. Festa que entrou no calendário litúrgico por volta da metade do século XIV. Entrada tardia porque havia - econtinua havendo - a convicção que todo domingo é dia da Trindade. Porém, já que a festa existe, vale a pena fazer uma parada e rever a imagem de Deus que nós temos e em que Deus nós acreditamos.

Faço parte dos cristãos que receberam a primeira catequese no modo de memorização. Uma das primeiras perguntas do catecismo era: “Quem éDeus?” E toda a criançada (eu com seis anos) respondia: “Deus é um espírito eterno, não criado, perfeitíssimo, criador do céu e da terra!”.  Deve haver mais alguma qualificação ou  adjetivo que, agora, não estou lembrando. Claro que para nós, crianças, a afirmação dizia pouco no sentido da compreensão. A catequista ensinava. A gente aceitava. Mesmo porque em casa e na catequese havia coerência nas respostas. Tanto os pais como as catequistas mostravam por suas atitudes que acreditavam naquilo que ensinavam.

Quando, depois, se dizia que Deus era uno e trino (Pai, Filho e Espírito Santo) éramos colocados diante da palavra mistério. O mistério da Santíssima Trindade. E lá se desdobravam as catequistas a nos explicar como um eram três e três eram um. A tentativa de explicação é a tendência de todos nós.

Na história de Santo Agostinho nos é oferecida a chave para crer no mistério trinitário: o mistério não é para ser enfiado em nossas cabeças. Nós é que devemos mergulhar nele. Isso nos é mostrado na experiência singela - construção simbólica trazida até nós - do encontro de Jesus menino com Agostinho numa praia.

Ao ver o menino pegando água do mar para colocar num buraquinho Agostinho pergunta o que o menino queria fazer. O garoto responde que queria colocar o mar dentro do buraquinho. Agostinho fala que isso era impossível. E o menino lhe responde dizendo que ele estava fazendo a mesma coisa: queria colocar o mistério de Deus dentro de sua cabeça.

Quando vamos à praia nós entramos no mar e ele nos envolve e nos dá o prazer de vivenciá-lo com multiformes sensações. Ao tentar falar de Deus nós podemos construir imagens que são reflexo daquilo que somos. Por isso surgem imagens de um Deus que castiga, que vigia, que persegue, que se vinga.

QuandoJesus Cristo nos revelou que podíamos falar com Deus chamando-o de Abbá - Pai, abre-se a oportunidade de descobrir a face verdadeira de Deus. Um Deus que no Antigo Testamento se apresentara a Moisés como clemente e cheio de compaixão, paciente, misericordioso e fiel, que conserva a misericórdia até a milésima geração, que perdoa culpas, delitos e pecados (Êxodo 34,6).

O v.7, que fala do castigo que filhos sofrem por erros dos pais, é a afirmação das conseqüências que acontecem a pessoas inocentes. É a constatação que a Bíblia faz daquilo que a nossa vida apresenta.

Não é desejo nem determinação divina. Nosso Deus, revelado a nós por Jesus Cristo, é uma comunidade de amor que nos chama a participar de sua vida. Um Deus que nos quer introduzir na alegria de sermos seus filhos e filhas. Ao descobrir essa alegria isso nos leva a comunicá-la aos outros. Deus nos ama tanto que no seu Filho se tornou um de nós e nunca mais se separou de nós. Deus não tem medo de misturar-se conosco. Ama-nos sempre. Comum amor incansável.

O Deus que cremos - Pai, Filho e Espírito Santo - se revela a nós como Amor (1ªJoão 4,8). E nisto nos revela que só na sua convivência nos realizaremos plenamente. Recordo, novamente, com palavras livres a constatação de Santo Agostinho: “Nosso coração vive inquieto enquanto não repousar em ti”. Só o Deus revelado por e em Jesus Cristo é o Deus libertador. As outras imagens de Deus aprisionam e amedrontam.

A missão, nestes tempos que nos levam a buscar os deusesdo momento, é o anúncio daquele que nos criou à sua imagem e semelhança e nos predestinou a ser filhos no Filho (Efésios 1,3ss.). É sempre tempo de encontrá-lo!

Encerro esta reflexão, tomando, de novo, a palavra de Santo Agostinho como uma oração que deve estar sempre em nossos lábios e em nosso coração:  “Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro e eu, fora. E aí teprocurava e lançava-me nada belo ante a beleza que tu criaste. Estavas comigo e eu não contigo... Agora anelo por ti. Provei-te, e tenho fome e sede.Tocaste-me e ardi por tua paz”! (Do Livro das Confissões de Santo Agostinho).

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