Na Casa do meu Pai há muitas moradas

Na Casa do meu Pai há muitas moradas

POSTADO EM 15 de Maio de 2017

Por Monsenhor Giovanni Barrese

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 No início do chamado “discurso de despedida”,no evangelho de São João, capítulo 14, no versículo 2, consta a afirmação que dá título ao presente artigo.

Esse discurso de Jesus na última ceia é tipo como uma espécie de testamento. Para compreender o que Jesus quer dizer com as“muitas moradas” é bom valer-se do conjunto dos textos da Escritura Sagrada trazidos à celebração do quinto domingo da Páscoa.

São Pedro na sua carta (1Pedro 2,4-9) afirma que Jesus é a pedra angular – alicerce - do edifícioespiritual-concreto que é a Igreja e que os que creem em Jesus são pedras vivasque vão sendo colocadas sobre esse alicerce. Muito bem. Essa construção alicerçada em Cristo como é? Magnífica, perfeita, irretocável, não precisa deacertos, correções, reformas? Nos Atos dos Apóstolos temos uma resposta. Logo no início do livro temos o retrato de uma igreja ideal. Diz o capítulo 2,42: “Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos (fidelidade àdoutrina), à comunhão fraterna (partilha dos bens), à fração do pão (celebraçãoda Eucaristia) e às orações (oração em comum) ”.

Mas, no capítulo 6, 1-7 vemdescrito um problema: a diferença de tratamento entre os cristãos judeus nascidos na Palestina e os cristãos judeus nascidos fora da Palestina e que já estavam marcados pela cultura grega. A situação levou os apóstolos a perceberque não podiam fazer tudo sozinhos. Não podiam concentrar tudo em suas mãos.Era preciso encontrar pessoas que desempenhass em funções à serviço da comunidade. Nasce aí a consciência de uma comunidade, de uma igreja ministerial.

E qual deveria ser o espírito dessa igreja ministerial. Nos dá aresposta final o texto do evangelho de João citado acima. É preciso ter consciência do caminho de Jesus e assumir esse caminho. E qual é esse caminho? O caminho de Jesus é o da doação da vida, é o serviço da doação até o fim (nãoesqueçamos que estamos nas últimas palavras, na última ceia). Se o caminho é oda doação onde se realiza essa decisão? Na Casa do Pai! Onde é a casa do Pai? OndeJesus e o Pai, que são um, estão! Onde Jesus está? Na construção onde ele é oalicerce! E essa construção é a Igreja.

Nela há muitas moradas, muito lugar. Nela cabe todo mundo. Não há limites. Não há lugares marcados, privilegiados.Não há lotação esgotada! O que é preciso para estar na cada do Pai? Fazer ocaminho de Jesus! 

Certamente os leitores já ouviram falar das “muitas moradas” em referência ao céu, à vida eterna. Mas essa não é uma interpretação plena. Pode servir como uma palavra de encorajamento para dizer da misericórdia de Deus que tem um lugar para todos os seus filhos e para que nós não pensemos que para ir para o céu dependa dos nossos merecimentos!

O que o texto do evangelho quer deixar claro é que a vida plena, que se dá pela presença de Deus em nossas vidas, só acontece se seguimos o mesmo caminho do Senhor. Não é sem motivos que o Papa Francisco tem falado em “igreja em saída”, “igreja como hospital de campanha”, “igreja acolhedora”,etc.

Para nos ajudar a compreender melhor o que somos como igreja, os bispos do Brasil, reunidos em Aparecida na realização da 55ª Assembleia da CNBB, nos deram o resultado das suas reflexões num documento que, brevemente, estará à disposição e que leva o título de “Iniciação à vida cristã: itinerário paraformar discípulos missionários”.

Os bispos lembram o já existente “Ritual deIniciação Cristã de Adultos” (RICA), e notando que, pela diversidade derealidades em nosso país, seria necessário afirmar os pontos fundamentais apresentados por esse ritual, nos dão o documento da assembleia. Trata-se de rever os caminhos da formação cristã que são vividos e buscar novos modos que respondam àsinquietações de nossos tempos.

A lembrança de São Paulo e São Barnabé em sua missão na Licaônia (Atos 14, 5-18) nos dá ideia da sensibilidade na pregação do Evangelho: em seu discurso Paulo fala aos judeus, invocando os profetas paraque se entendesse que eles preparavam a chegada do Messias, Jesus de Nazaré;falava aos pagãos, que acreditavam na presença dos deuses em suas vidas, para que soubessem que havia um só Deus, na pessoa de Jesus!

Não se trata de desprezar o que já se fez e o que se faz. Trata-se de renovar, de buscar novos caminhos, para que o Evangelho possa ser a luz para todos. Procuremos ler e refletir sobre a palavra dos nossos bispos. O documento que produziram seráum grande auxilio para a missão que é de todos nós: evangelizar!

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