A Igreja e as Reformas na Politica e na Economia

A Igreja e as Reformas na Politica e na Economia

POSTADO EM 12 de Maio de 2017

Por. Monsenhor Giovanni BarreseImage title


Volta e meia se percebe,nas intervenções de pessoas e dos meios de comunicação, certa exigência em quea hierarquia da Igreja tome posição em relação a assuntos que envolvem a vivênciapolítica, dados da vida econômica, visões sobre o comportamento, etc.  

É da essência do Evangelho – e dos que o têm como norma de vida – pautar palavras e comportamentos pela Boa Nova. Mesmo porque a Palavra do Senhor é Vida. E, como diz São Paulo, caminhamos napenumbra da fé para lembrar que ainda não estamos na visão beatífica. Temos que lidar com os desafios que nos envolvem no quotidiano e buscar soluções de vida para nós e para os outros.

Além do questionamento à hierarquia de serviço da Igreja, questionam-se também os cristãos leigos e leigas: há que se tomar uma posição, um partido. E não faltam sugestões e pedidos para que os cristãos defé católica formem um partido (até com o argumento que os cristãos protestantes,apesar de todas as suas divisões, estão cada vez mais presentes na política partidária).

Dá-se a impressão que os membros da Igreja precisariam de intervenção quase direcional. O grande perigo desse tipo de pensamento é a substituição da consciência por uma norma derivada de autoridade ou grupo. E isso acarreta a falta de assumir posição, pensar e agir conforme a própria convicção.

Minha impressão, em relação a esse tipo de “exigência”, é que o desconhecimento a respeito da Doutrina Social da Igreja continua grande.

Creio que muita gente, até com certo saber acadêmico, nunca se aproximou deDocumentos do Concílio Vaticano II (tais como “Gaudium et Spes” , “Apostolicamactuositatem”),  de Encíclicas  como “Rerum Novarum”, “Quadragesimo anno”,“Pacem in terris”, Populorum progressio”, “Octogesima adveniens”, Iustitiam etpacem promovere”, “Laborem exercens”, “Sollicitudo rei socialis”, “Centesimusannus”, “Evangelii Gaudium”, “Laudato si”; de muitos pronunciamentos da ConferênciaNacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nas coleções “Estudos” e “Documentos”; do Catecismo da Igreja Católica, etc.

Se posso sugerir uma leitura palatável e, decerto modo, englobante, aponto o “Compêndio da Doutrina Social da Igreja” dasEdições Paulinas. Aí está um bom resumo do pensamento da hierarquia da Igrejasobre a maneira que se deve agir e tomar posição.

O conhecimento que nos é oferecido ajuda a entender o porquê de pronunciamentos do Papa, dos bispos e dos sacerdotes em situações como as apresentadas pelas tão faladas necessidadesda Reforma Política, da Reforma Trabalhista e da Reforma da Previdência Social em nosso país.

Quando da paralização do dia 28 de abril, muitos viram nospronunciamentos da CNBB um apoio à greve geral. Greve convocada por centrais sindicais, partidos políticos, etc. Na verdade o que a CNBB disse é que o povo tinha direito de se organizar e de se manifestar. A CNBB não tomou partido político. Cumpriu sua missão de convocar as pessoas a olharem as propostas empauta e apresentar seu modo de ver.

Em entrevista recente o arcebispo de Brasília Dom Paulo Sérgio Rocha deixou clara qual a missão da Igreja no queenvolve Política e Economia: não tomar para si a missão de substituir as consciências e não ajudar a abrir caminho para “salvadores da pátria”!

O desafio que subjaz os pronunciamentos da Igreja é que muitos a querem muda. A crença em Jesus Cristo apresenta exigências de fraternidade, solidariedade, honestidade, amor à verdade, etc. E isso, em nosso tempo, parece coisa a ser banida. Qualquer pronunciamento que chame a atenção em relação a interesses que não se coadunam com a dignidade das pessoas ou que firam as facilidades obtidas por grupos precisam ser caladas!

Um caso: foi apresentada uma diretoria desindicato -  se não me engano no Rio deJaneiro – onde toda uma família desempenhava funções remuneradas com altos salários. Quem vai querer perder uma “boquinha” como essa? O que dizer dos “donos” dos partidos políticos? O que dizer da preocupação com o mundo do dinheiro que só defende seus interesses? Como não chamar a atençãoao crescimento da pobreza, do desemprego? Além de querer que a Igreja se cale (na hierarquia e no laicato) coloca-se em seus pronunciamentos algo que ela não disse!

Cabe a quem assume a fé em Jesus Cristo e é Igreja conhecer melhor a voz dos seus pastores.

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