A Água, a mulher e Jesus

A Água, a mulher e Jesus

POSTADO EM 31 de Março de 2017

Por. Monsenhor Giovanni Barrese

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Temos todos aconsciência que a água é vida. Não cuidamos bem dela, mas isso não quer dizerque não saibamos da sua importância. Talvez pela abundância que sempre tivemose ainda temos. Temos sido alertados que devemos cuidar melhor desse bemimprescindível. Faz alguns anos passamos pela crise de sua falta. Atéaprendemos a gastar e cuidar melhor! Nós, no Brasil, todavia, temos dificuldadeem perceber que a água poderá um dia faltar. Temos um grande patrimônio de riose aquíferos. Penso que países desérticos responderiam melhor ao apelo docuidado que se deve ter. Pensando nisto tomei a primeira leitura do terceirodomingo da quaresma como pano de fundo para lembrar a ação divina que acontecedurante a caminhada dos fugitivos, encabeçados por Moisés, da escravidão egípcia.Tendo uma somatória  de gestos quedeixavam clara a ação divina, relativa à libertação do seu povo, quando a águafaltou no deserto começou a reclamação: “Deus nos tirou do Egito para nos matarde sede”!

De um fato que fazparte da epopeia mosaica, o evangelista João coloca a moldura para falar,também, da água. Narra o encontro, à beira de um poço, de Jesus com uma mulherda Samaria. À época não era de bom tom um homem conversar com uma mulhersozinha. Muito menos um judeu falar com samaritano. A Samaria era consideradaquase pagã por conta da miscigenação que ocorreu na formação de seu povo devidoa proximidade da Fenícia, da Síria, da Arábia e que ocasionou casamentosmistos.

Jesus pede água. Erameio dia. A mulher se surpreende. Inicia-se um diálogo que desemboca naexpressão “água viva”. Não é estranha na Bíblia a utilização da imagem docasamento para falar da aliança de Deus (esposo) com seu povo (esposa). Joãoquer atualizar essa imagem, aplicando-a a Jesus e ao novo povo que nascerá apartir da conversão a ele. No quadro da Samaritana vai sendo tecido como que umdesenho espiralado onde cada detalhe vai sendo aclarado pelo seguinte. E dopedido de Jesus, caminha-se para a firmação que ele tem uma outra água capaz deaplacar a sede para sempre. A mulher que deve, todos os dias carregar o cântaro,se entusiasma: dá-me dessa água”! Jesus lhe diz para buscar o marido. Ela seencabula, mas diz que não tem marido. O Senhor lhe fala: “É verdade, você játeve muitos. O de agora não é seu marido”! O diálogo esclarecedor com Jesus afaz caminhar da surpresa do pedido de Jesus à afirmação de que ele é o Messias.E ele, o Messias tem poder de dar a “água viva”!

Neste quadro evangélico Joãofaz a catequese como o esposo que sacia a sede de vida e de amor do seu povo.Tal como no Antigo Testamento Deus fez Aliança irrevogável com Israel.  Aliança que nem sempre teve resposta fiel porparte do povo, mas Deus sempre o buscou (recomendo a leitura do profeta Oséiasque ajuda a entender o amor que não se cansa apesar das infidelidades). O povojudeu fez alianças com muitos povos pagãos adorando seus deuses edesgarrando-se da Lei do Senhor.

No evangelho João recordandondo o quadro dahistória passada e vai colocando o fundamento da razão pela qual Jesus se tornaa razão para encontrar o sentido da fidelidade que leva à Vida. E não deixa deser sintomático o fato de que o primeiro milagre do Senhor tenha acontecido numcasamento em Caná. A transformação da água em vinho é um adiantamento do queseria o anúncio da água viva. Jesus é aquele que transforma a limitação humanaem plenitude. Lá onde parece haver situação sem solução e sofrimento prolongadoele é aquele que sacia a sede humana.

À luz do evangelho da Samaritana  vale lembrar a presença da mulher em muitosmomentos da vida do Senhor. Muitas mulheres tiveram presença importante no seuministério e, como todos sabemos, foram as primeiras testemunhas do Senhorressuscitado. Esta realidade, que marca a presença feminina no seguimento deJesus, deve ser sempre mais valorizada. Até seria importante perguntar comoseria a igreja sem a presença da mulher. Não é à toa queo Papa Francisco tem falado muito na valorização de sua presença no caminhar doPovo de Deus. Sem a ternura do seu coração não compreenderíamos o que significao Amor e nem entenderíamos o que significa Fidelidade!

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