BÍBLIA: LIVRO COMPLICADO?

BÍBLIA: LIVRO COMPLICADO?

POSTADO EM 04 de Setembro de 2015

BÍBLIA: LIVRO COMPLICADO?

O mês de setImage titleembro tornou-se, faz muito tempo, oportunidade para um olhar mais detalhado sobre o relacionamento de cada pessoa com a Bíblia. Ao escrever tenho em mente uma desculpa, ainda presente, na fala de muita gente: a Bíblia é um livro difícil, complicado! Se houve uma época, na caminhada da Igreja Católica, em que a Bíblia ficou restrita aos clérigos, a intenção era preservar a sua pureza diante de interpretações que a distorcessem. Houve algum bem nessa medida.  A lentidão, contudo, em descobrir a mudança dos tempos e a necessidade das pessoas, criou um distanciamento que nunca foi desejado. E coube à Reforma Protestante sacudir o marasmo que envolvia a relação Bíblia-Povo. Passados séculos, florescidos estudos, muito já se fez para superar um distanciamento que não era desejado. Vamos aproveitar a oportunidade do lembrete deste mês: conhecer mais a Bíblia! Vamos sempre recordar, que antes de ser escrita, a Bíblia passou, por via oral, de geração em geração. Naturalmente eram lições compreendidas por aqueles que as davam e por aqueles que as recebiam. O que aconteceu com os textos escritos é que nas diferentes redações em línguas diversas, com expressões literárias igualmente diferentes, seu sentido original ficou, muitas vezes, escondido sob as limitações da linguagem humana. Com isto torna-se necessário “descobrir” o que está por detrás das palavras.  Não basta uma leitura “ao pé da letra”.  Uma primeira necessidade é descobrir o gênero literário de cada livro. Gênero literário é o conjunto de normas de vocabulário e sintaxe que se usam habitualmente para abordar um assunto. Por exemplo: o assunto “leis” tem gênero diferente do assunto “poesia”; uma crônica é diferente de uma carta; uma lenda é diferente de um relato histórico. Cada gênero literário supõe regras próprias tanto de expressão como de interpretação. Hoje existem muitíssimos estudos, de gamas variadas de extensão e profundidade, que auxiliam desde o leitor mais simples até ao mais preparado. Longe, portanto, a desculpa do “é difícil!”. Outro tema interessante é o que se refere às línguas bíblicas: hebraico, aramaico e grego. Fica logo claro que seu conhecimento não é necessário para todos! O comum dos leitores deve fiar-se nos estudos dos especialistas e valer-se das muitas e boas traduções existentes.  Na língua hebraica foram escritos todos os livros protocanônicos do Antigo Testamento. Protocanônico significa livro desde sempre catalogado no cânon (regra) bíblica. O aramaico (língua próxima ao hebraico, utilizada pelos comerciantes arameus e que se tornou popular em Israel) foi língua de redação de alguns trechos de livros do AT e o original do Evangelho de Mateus (que se perdeu). Em grego foram redigidos os outros livros do Novo Testamento.  Além disso, fazem parte da Bíblia católica os livros e fragmentos chamados deuterocanônicos (colocados no cânon bíblico após muitas discussões) do AT, cujos originais se perderam. Recordo Judite, Tobias, Baruc, Macabeus, Sabedoria, algumas secções de Daniel e trechos de Éster.

É sabido que Moisés é tido como o primeiro codificador das tradições orais e escritas de Israel, no século XIII antes de Cristo. Todo o material foi acrescido aos poucos, ao longo do tempo, sem que houvesse preocupação de catalogar tudo. Quando, no século I da nossa era, começaram a surgir os livros cristãos que se apresentavam como continuação dos escritos sagrados do AT houve reação do judaísmo que não aceitava a messianismo de Jesus de Nazaré. Por volta do ano 100 vários rabinos se reuniram em Jamnia ou Jabnes, no sul da Palestina e estabeleceram princípios pelos quais os livros seriam considerados sagrados e inspirados por Deus, a saber: o livro sagrado não poderia ter sido escrito fora da terra de Israel; não poderia ser escrito em grego ou aramaico, mas somente em hebraico; não poderia ter sido escrito depois da reforma de Esdras (458-428 AC) e não poderia estar em contradição com a Torá (Lei de Moisés). Conseqüentemente os judeus da Palestina fecharam seu cânon sagrado sem reconhecer livros e escritos que não estavam de acordo com essas regras. 

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