A ASSUNÇÃO DE MARIA, A SITUAÇÃO DO PAÍS E AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES.

A ASSUNÇÃO DE MARIA, A SITUAÇÃO DO PAÍS E AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES.

POSTADO EM 22 de AGOSTO de 2016


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A Igreja Católica celebra no dia 15 de agosto a festa da Assunção de Maria. Quando o dia 15 não é domingo a festa é celebrada no domingo que segue o dia 15. Por antiga tradição, desde os primórdios, nos meios das comunidades cristãs, sempre se pensou que a Mãe de Jesus Cristo, Filho de Deus, não podia passar pela mesma situação dos que são marcados pelo pecado original. Como mãe do Salvador ela não poderia estar sujeita ao pecado. Em 1854 o papa Pio IX proclamou a sua Imaculada Conceição. Consequência desse modo de crer, no ano de 1950, o papa Pio XII declarou como fé católica o crer que Maria não passou pela morte do mesmo jeito que os demais pecadores. A morte física foi vista, durante muito tempo, como consequência do pecado. Hoje compreendemos que a morte física faz parte da condição dos seres criados. Para afirmar a “imunidade” de Maria em relação à morte a Igreja definia sua ida para Deus como assumida em corpo e alma no final de seus dias terrenos. As afirmações ao redor da “assunção” de Maria estão na linha de que ela vive a plenitude dos que foram fieis ao Senhor.  Um cristão protestante, que me honra com a leitura destas linhas, questionou-me sobre este assunto. Afinal onde estariam as raízes bíblicas dessa verdade de fé católica. Onde estão as bases dos dogmas marianos? Porque na Bíblia não há nada que fale explicitamente nem de “imaculada” e nem de “assunção”. Comentei com ele que entre os católicos e os protestantes existe a questão da aceitação ou não da Tradição, vida vivida da Igreja como normativa da fé. Quando a Reforma Protestante propugnou pela Escritura Sagrada (“sola Scriptura”) como fonte única da fé, criou-se uma dificuldade no caminhar teológico comum. Eu dizia ao amigo que a afirmação da Bíblia como fonte única da fé, a meu ver, deve ser entendida e vista no contexto da situação eclesial da Idade Média e do Renascimento. Com todos os abusos que a história nos mostra e com afirmações teológicas que colocavam a Jesus Cristo num lugar que não era o seu e promoviam devoções a Maria e aos santos, muito mais marcadas pela superstição e pela ganância dos bens e do poder, não é estranho que os reformadores fincassem o pé naquilo que literalmente a Escritura dizia. Creio que superadas as dificuldades vividas naqueles tempos é hoje possível ter diálogo sereno e franco. Que possa aprofundar o saber teológico. Mesmo porque nenhuma proposta de fé pode contrariar a Bíblia. Mas não se podem negar passos de fé que não tenham forma literal, mas possam ser intuídos a partir das verdades que a Bíblia propõe. Já foram dados muitos passos. E existe hoje um grande trabalho ecumênico para que as igrejas cristãs se conheçam melhor, vejam o que há em comum e saibam a razão das diferenças. Possam colaborar na busca da verdade e da concretização daquele que é o maior mandamento: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Nossa conversa derivou para toda a situação de corrupção que tem sacudido nosso país.  Dizia o meu amigo que no canto de Maria (“Magnificat”, no evangelho de Lucas, 1,46-55) na visita a Isabel, há toda uma proclamação da ação libertadora de Deus. E da justiça que ele quer para o seu povo. E que, muitas vezes, não era fácil falar do assunto porque, se Maria cantou isso há mais de dois mil anos, como se explica a demora da realização do plano de Deus? Nossa reflexão nos levou a ter bem claro que a demora não é de Deus. Uma vez que Ele é fiel. A demora é nossa.  Tendo a proclamação do sonho de Deus e nos afirmando seus filhos, crentes Nele, a questão é de coerência da nossa parte. Afinal, por que acontecem fatos de corrupção? E para cutucar um pouco mais eu disse: se pelo menos noventa por cento da população brasileira se declara cristã (entre católicos e protestantes), como aceitamos tudo o que acontece? Como deixamos isso acontecer? Enveredamos pela responsabilidade de cidadãos na hora das campanhas políticas, das candidaturas, das eleições... E concluímos que há um árduo trabalho de conversão para todos nós. Falamos até das tentações de buscar hegemonia na visão da fé e da política como caminho para o poder. Ligar o voto à denominação religiosa. Desembocaria na ditadura de ver a realidade de um lado só. E no fanatismo que já existe. E a “catolicidade” da fé (sua universalidade) seria transformada em monólito. Terminamos nossa conversa refletindo na força da Palavra de Deus como explicadora dos sonhos Dele e incentivadora a buscar os meios para que esses sonhos se realizem. Lembramos de que o apelo de Deus passa pelo coração e desemboca na arquitetura das instituições. Todas elas. Igrejas também. Há necessidade de um diálogo que saiba refletir sobre o passado. Sem negá-lo. Mas sabendo fazer justiça histórica. Que empurre para a fraternidade de quem crê nos mesmos ideais. No mesmo Deus. Há necessidade de empenhos concretos para a superação das tentações da corrupção. A fé cristã deve brilhar mais no contexto do dia a dia. Especialmente pelo testemunho dos que se dizem cristãos. E terminamos concordes que o que cremos ou não sobre a Mãe de Jesus não nos pode fazer adversários. Mas solidários na busca do bem para todos.

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