O amor seja sincero

O amor seja sincero

POSTADO EM 01 de Junho de 2016

O amor seja sincero

“O amor seja sincero.

Detestai o mal, apegai-vos ao bem”.

(Rm, 12,9)

           Image title Quando lemos o capítulo 12, 9-16b. da Carta de São Paulo aos Romanos temos aí um belíssimo texto de exortação à comunidade. Lendo nas entrelinhas, percebemos que esta comunidade tinha muitas dificuldades de relacionamento.

Trata-se de uma comunidade que estava na cidade da capital do Império, cujos membros, são romanos convertidos agora ao Cristianismo, e que apesar de cultivarem novos valores ainda trazem consigo sua cultura.

Os desafios da proposta do seguimento de Jesus diante de uma cultura imperial vão se fazer sentir dentro da comunidade. Neste capítulo podemos de forma comparativa apresentar o contexto sócio-cultural no qual está inserida a comunidade.

O texto demonstra que a comunidade procura superar uma cultura imperial a que estavam acostumados, marcados por uma lógica de poder, uso da força militar, e abuso de autoridade, sem contar a escravidão e o não reconhecimento da cidadania a quem não tinha posses.

A comunidade paulina de Roma é uma assembléia (ekklesia) diferente. A proposta da comunidade cristã é acolher a todos e todasImage title. Não há mais judeu ou romano, escravo ou livre, mas todos são filhos e filhas de Deus. O batismo garante uma nova cidadania: a cidadania do céu.

No texto percebemos o contexto da comunidade. Era marcada por conflitos entre os membros, pois São Paulo exorta pedindo que “o amor seja sincero. Detestai o mal, apegai-vos ao bem” (Rm 12, 9).

Não eram fraternos entre si, faltava afeição, por isso, orienta “Que o amor fraterno vos una uns aos outros com terna afeição, previnindo-vos com atenções recíprocas” (Rm 12, 10).

São Paulo demonstra que a terna afeição que se deve ter entre os membros torna-se possível por meio de atenções recíprocas. Estar atento ao outro, ou melhor, ater-se ao outro. Esta atenção deve ser ainda maior pelo Senhor.

A afeição pelo outro é demonstrada pela atenção, enquanto que pelo Senhor se dá através do zelo e a diligência, isto é, pelo fervor de espírito, servindo sempre ao Senhor. (Cf Rm 12, 11).

A alegria é a força do Senhor na comunidade. E essa alegria é a esperança da comunidade, é o próprio Jesus vivo e ressuscitado que habita no meio de nós através do seu Espírito.

Essa alegria que é a força do Senhor em nós, fortalece-nos diante das tribulações, mas para isto, é necessário ser perseverantes na oração. Na oração cultivamos amizade com Jesus. (Cf Rm 12,12).

É através de uma vida espiritual que podemos transcender e parar de olhar de modo reducionista e relativo para as coisas, isto é, na imanência e contemplar o Senhor em sua humanidade e divindade.

Na oração pessoal podemos conhecer cada vez mais o coração de Jesus, compreender sua maneira de amar e cultivar em nós os mesmos sentimentos que nele havia e assim viver.

Através do encontro com Ele sua graça nos abre para mais amar. Ele nos convida a encontrar com Ele naquele que mais necessita e está sofrendo. É ele quem nos diz: Tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos é a mim que o fazeis.

E então a partir dessa experiência de encontro sincero com Ele, crescemos num amor sincero também e isto é o que São Paulo estava propondo para os fiéis da comunidade de Roma.

O encontro sincero com Ele leva a uma vivência sincera com os outros também.

E então São Paulo exorta: “Socorrei os cristãos (santos) em suas necessidades, persisti na prática da hospitalidade”. (Rm 12, 13). A preocupação da comunidade cristã não deve ser com as estruturas, mas com as pessoas.

            A forma de esforçar para vencer o mal que existe na comunidade é através da benção: “Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis”. (Rm 12, 14). Abençoar é bem-dizer, enquanto, amaldiçoar é mal-dizer. Há muitas formas do mal destruir a comunidade, mas o falar mal do outro, o fofocar é uma praga terrível. Outro mal é a cegueira pelo poder.

            A comunidade ainda é convidada a alegrar-se com quem se alegra e chorar com quem chora. (Cf. Rm 12, 15). Compartilhar alegria é uma dádiva. Celebrar a alegria de um irmão e uma irmã é uma graça. Falta entre nós solidariedade e temos perdido o costume de oferecer acolhida a quem está chorando.

O choro é compreendido por nossa sociedade como sinal de fraqueza e infelizmente as pessoas não podem assumir que são vulneráveis, e assim vamos desumanizando. É preciso pedir o dom das lágrimas para que tenhamos uma verdadeira conversão diante da dor do outro que sofre.

São Paulo exorta ainda a comunidade a manter um bom entendimento uns com os outros; não deixando levar pelo gosto de grandeza, mas acomodando-se às coisas humildes. (Cf Rm 12, 16).

A comunidade cristã é chamada a ser simples, humilde, servidora, acolhedora, generosa e amorosa. Se não há desejo de grandeza entre nós, então tratamos a cada um pelo que é – filho e filha de Deus, por essa dignidade, e não pelo que tem ou título, mérito, enfim, e então é possível um bom entendimento uns com os outros.

O que impede um bom entendimento entre uns e outros é a vaidade humana que infelizmente toma conta de cada um de nós. Nos olhamos e nos medimos a partir de nossas conquistas. Essa mentalidade provinda de uma cultura imperial, São Paulo procura superar na comunidade cristã, convidando a uma vida simples.

Estando hoje vivendo num pontificado como o de Francisco que traz em sua proposta eclesial uma igreja pobre para os pobres, percebemos, o quanto sua inspiração vem do Espírito que sempre soprou na Igreja e no Mundo os seus caminhos por meio do convite a uma vida feita de uma profunda entrega confiante em Deus e na busca do exercício cotidiano da humildade e do cuidado para com os pobres.

Que a exortação à comunidade paulina encontre eco em nossas comunidades hoje. Que percebamos a riqueza que é a Palavra de Deus, esse tesouro feito pelo Espírito que traz dentro deste seu baú da história, novidade constante para nós.

Que São Paulo interceda por nossas comunidades e que nelas se cultivem o amor sincero pelo Senhor e entre uns e outros, e assim possamos viver numa vida mais simples, abertos à generosidade para com os que mais necessitam.

Pe. José Antonio Boareto

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