Olhai o esplendor das vestes das flores - Pe. José Antônio Boareto

Olhai o esplendor das vestes das flores - Pe. José Antônio Boareto

POSTADO EM 26 de Julho de 2022

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Olhai o esplendor das vestes das flores


No Evangelho de Lucas no capítulo 12, versículo 27 lemos: “Olhai as flores do campo; elas não fiam, nem tecem. Eu, todavia, vos asseguro que nem mesmo Salomão, em todo o seu esplendor, pôde se vestir como uma delas”. Quem ainda não contemplou um roseiral? Como é belo olhar o esplendor das vestes das flores! Como é belo ver o colorido de tantas flores juntas! A beleza está no olhar que vê com a liberdade interior de quem sabe que Deus faz maravilhas. Se as flores se vestem melhor que Salomão apesar de todo o seu esplendor, porque queremos o esplendor em nossa maneira de vestir e não a singeleza da beleza das flores? De que se trata afinal esta reflexão? Será que é sobre a maneira de vestir-se?

Ultimamente temos acompanhado um movimento crescente entre os jovens recuperando a virtude da modéstia e a fundamentação para tal atitude está em Santo Tomás de Aquino. Segundo o Doutor Angélico, a modéstia é parte da virtude da temperança que nos ajuda a moderar os nossos desejos pelo uso da razão. (Cf. Suma teológica, II-II, Q. 160). Podemos dizer que há dois modos de “temperar” os desejos pelo uso da razão: a modéstia externa pela moderação nos atos e a modéstia interna pela humildade que consiste em ser honestos conosco mesmos reconhecendo que precisamos de Deus pois somos criaturas.

Ainda o mesmo Santo Tomás de Aquino diz sobre a ornamentação do corpo: “O ornato do corpo não seja exagerado, mas natural; simples negligente de preferência a rebuscado; não se usem de vestes preciosas e alvejantes, mas, de roupas comuns, de modo a não faltar nada do que exige a honestidade ou a necessidade, sem se cair no exagero. Logo, pode haver virtude e vício em matéria de vestuário” (Cf. Suma teológica, II-II, Q. 169). Novamente caberia aqui a pergunta que fazíamos sobre a passagem do Evangelho: trata-se da vestimenta? Qual é a reflexão que devemos fazer? Por que é importante observar a modéstia nas vestes?

Trazendo para o hoje da História, podemos afirmar que é preciso tomar um cuidado com a cultura da modéstia que tem sido propagada entre os jovens, pois a modéstia enquanto virtude da temperança quer ajudar a moderar os desejos pela razão mas ela está em vista de uma outra consideração que podemos ler nas

“entrelinhas”.

Em relação a modéstia externa: deve-se moderar no uso das vestes luxuosas por causa do “escândalo” que pode ser diante dos outros economicamente mais desfavoráveis que não podem sequer escolher o que vestir. Usar roupas simples como atitude de acolhida e proximidade dos mais pobres. A veste aqui pode ser um meio para realizar a “inculturação”. Quanto a modéstia interna demonstrada pela humildade enquanto atitude de honestidade para consigo continua sendo a

vestimenta mais importante a ser usada, isto é, um coração que se rasga diante do

Senhor e não as suas vestes. (Jl 2, 13).

Vivendo na sociedade do espetáculo como é a nossa, precisamos ficar atentos ao que já falava Santo Tomás de Aquino, ou seja, que a modéstia tempere o desejo fazendo do exercitante na virtude mais humilde e honesto para que não corra o risco de transformar o vestuário em vício. E muitas vezes, o que observamos é que a modéstia virou um empreendimento do mercado religioso, um produto a ser oferecido, que ao invés de oferecer modéstia no vestir, apresenta a distinta diferença de outras pessoas por meio de vestimentas exclusivas mas catalogadas como modestas.

A atenção de Santo Tomás de Aquino encontra aqui a sua preocupação. Que tenhamos o cuidado em não cair na tentação do vício do vestuário, procurando cada vez mais distinguir-se das outras pessoas mais simples, sobretudo, as mais pobres, usando vestes que sejam a expressão visual de uma vivência de fé mas são apenas produtos do empreendimento religioso, enquanto, que seríamos mais modestos se nossas vestes fossem mais simples, próximas da realidade dos pobres, e seríamos mais modestos sendo mais humildes e honestos.

Saudades dos tempos em que a juventude rezava com fervor a oração atribuída a São João Paulo II onde ele dizia que a Igreja precisava de santos de calça jeans, e estes, sonhavam em fazer neste mundo a Civilização do Amor. E assim, com certeza, vestimo-nos iríamos com o esplendor não das flores, mas do próprio Cristo, de sua Beleza em nós.


Pe. José Antônio  Boareto

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