Baixe a bola, a guarda e as armas!

Baixe a bola, a guarda e as armas!

POSTADO EM 02 de Janeiro de 2020

     Baixe a bola, a guarda e as armas!


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Em 2020 é isso que desejo a cada um de nós. É hora de baixar a bola, a guarda e as armas. Estamos perdendo a capacidade de conviver com os outros e reduzimos nossa vida a uma bolha onde o que acontece com o outro é problema do outro e não me interessa. Mas essa indiferença, ela está tomando forma generalizada, de modo particular, os pobres e os marginalizados estão sendo descartados pois não são considerados úteis e nem capazes de produzir.

É hora de baixar a bola. Colocar a bola no chão dá a possibilidade de jogá-la, isto é, de participar do jogo. Na família, o casal precisa baixar a bola, o marido precisa e a esposa também. Muitas vezes, as discussões que geram as discórdias entre os casais são fruto de um ego inflado e que pode ter sido ferido e por isso mesmo não consegue diminuir-se, pois está sempre em atitude de defesa. Os filhos também precisam baixar a bola respeitando os pais.

É hora de baixar a guarda ou como dizem “cortar as asas” ou ainda “fechar essas asas e encolher o bico”. Nas relações com os outros, faz-se importante agir com humildade e ao mesmo tempo com caridade. Vivemos numa sociedade que culturalmente impõe sobre nós uma visão de mundo única e que nos reduz ao que temos e fazemos e por isso vamos nos desumanizando cada vez mais. O que o outro sente não nos importa e assim não damos atenção nem mesmo ao que sentimos, mas fazemos o que tiver que ser feito para alcançar o sucesso e o corpo perfeito.

É hora de baixar as armas. Apesar de toda propaganda a favor do uso de armas, precisamos baixar as armas. Promover uma cultura de destruição do outro e da paz que vem através da guerra é um engano pois a paz é fruto da justiça e a segurança é antes garantir a cada pessoa seus direitos humanos fundamentais. A violência tem crescido e sobretudo observa-se um crescente de ataques a grupos minoritários, como os indígenas, quilombolas, caiçaras, mulheres e os refugiados de modo geral, os quais esperam dos governos e da sociedade civil proteção de seus direitos.

Ensina Santo Tomás de Aquino que a humildade sem a caridade não para de pé. O ser humano mantém-se em seu possível equilíbrio quando “baixa a bola, a guarda e as armas” e assim procura viver cultivando as virtudes que para nós cristãos e cristãs são fundamentais para se realizar humanamente, uma vez que, o ser humano não pode realizar-se a não ser em Deus. Essas virtudes são a fé, esperança e caridade.

A fé é dom que se recebe no Batismo e donde a pessoa ao tornar-se cristã é chamada a iniciar-se no discipulado de Jesus e este caráter iniciático irá se estender por toda sua vida, pois o cristão e cristã é sempre um aprendiz.

A esperança cristã não decepciona, pois ela é o próprio Cristo vivo. E Ele vive misteriosamente em nosso meio. Seu Espírito que é vida nos conduz. E nós procuramos a cada dia tornar presente no mundo o seu Reino de justiça, amor e paz. E ainda aguardamos definitivamente o Reino que virá com a Parusia do Senhor quando Ele voltar.

A caridade é o próprio Deus. É Ele quem se revela sendo amor. E a caridade é o distintivo do cristão e da cristã. Nada é tão virtuoso em um ser humano que ele viver da caridade, isto é, da gratuidade. Através da caridade o ser humano realiza-se como ser em relação, pois, abre-se para o Amor que é Deus e ama seu semelhante como a si mesmo. Para nós cristãos e cristãs a expressão maior desse amor de Deus por nós foi dar o Filho como Salvador. Assim como Ele deu sua vida por amor a nós, também devemos dar a nossa vida pelos nossos irmãos e irmãs.

Baixar a bola, a guarda e as armas nos nossos dias é uma atitude nobre de quem ainda acredita nas virtudes teologais e sabe que o ser humano é chamado a ser virtuoso moralmente. Apesar de termos nossa pequenez, Deus nos fez grandes, nos fez a sua imagem e semelhança. Deu a nós a graça de sermos “senhores da terra” e de cuidar da Criação.

Assim como Jesus “abaixou-se” de sua condição divina tornando-se igual a nós em tudo, exceto no pecado, assim também nós “abaixemo-nos” de nosso orgulho, estupidez e autoritarismo e acolhamos em nossa vida a humildade procurando viver um estilo de vida mais simples e sóbrio que nos faça sermos capazes de realizarmos o sonho do Pai manifestado na oração que Jesus nos ensinou a rezar: Pai nosso seja feita a tua vontade na terra como é feita no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje.

Humildes e mansos de coração como Jesus assim sejamos. Humildes e misericordiosos, compassivos, capazes de cuidarmos uns dos outros. Amorosos, carinhosos e cheios de ternura também com a natureza. Aprendamos a dialogar com as pessoas que pensam diferente de nós e não sejamos indiferentes as dores da terra e dos pobres e juntos cuidemos da Casa Comum.


Pe. José Antonio Boareto

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