Um Credor Fantástico!
Por Mosenhor Giovanni
Jesus Cristo, no seu ensinamento sobre como auxiliar a quem erra a corrigir suas atitudes, lembra os passos do que se costuma chamar “correção fraterna”. Abordamos isso no artigo passado refletindo sobre Mateus (18,15-20). Avançando e radicalizando a atitude do perdão devido, ele responde à pergunta de Pedro se perdoar sete vezes já não era muito bom (Mateus 18,23-35).
Jesus reponde que a conta era multiplicar setenta vezes por sete. Significando disposição de perdoar sempre! E conta uma história. Um homem devia uma quantia fantástica. Alguns autores falam em 10 mil talentos de ouro.
O talento era uma peça de trinta quilos. Fazendo a multiplicação chega-se a soma impagável. Na cobrança de pagamento só resta ao devedor suplicar por um prazo que jamais seria finalizado. O credor perdoa a dívida! Depois dessa nova vida, nascida no perdão, o devedor sem esperança não é capaz de ser generoso com um colega que lhe devia pequena quantia. Diante desse fato o credor castiga.
Essa parábola faz pensar, primeiramente, no credor. Quem é que fia quantia tão fantástica? Quem é esse credor que tem tantos recursos e vai dando prazos para uma dívida ilimitada? Não é difícil descobrir que o Senhor está falando do Pai a quem ele veio revelar.
Deus não mede os pedidos de empréstimo que lhe fazemos. Ele quer que saibamos emprestar uns aos outros e sejamos generosos na cobrança! Significa que diante dos débitos (erros) dos outros tenhamos sempre em mente que também somos devedores.
E se não tivermos coração diante das dívidas alheias carregaremos o peso das nossas, sem esperança de perdão! Não é uma ameaça a frase: “Eis como meu Pai celeste agirá convosco, se cada um de vós não perdoar, de coração, ao seu irmão” (18,35).
Queremos perdão ilimitado. Devemos perdoar sem limites!
O perdão é a atitude de, positivamente, agir para que aquele que ofende tenha um parâmetro da possibilidade de mudar de vida. Se diante da ofensa a reação for de ira, de ódio o fruto será o desejo de vingança e o endurecimento do coração. Para secundar esta reflexão valho-me de algumas frases do livro do Eclesiástico (27,30-28,1-7).
Destaco: “ O rancor e a cólera...são abomináveis, o pecador os possui... Aquele que se vinga encontrará vingança no Senhor que pedira minuciosa conta dos seus pecados... \um homem guarda rancor contra o outro: do Senhor pedirá cura?... Para com o seu semelhante não tem misericórdia, e pede perdão de seus pecados?... Lembra-te do fim e deixa o ódio...”!
Esta última frase me ajuda a propor uma questão: Adianta remoer raiva e levar a vida assim até a morte. Morro eu e morre a pessoa que eu odiava. Como vivi? Não é muito melhor tomar a atitude positiva de livrar-se desse tipo de sentimento e buscar caminhos que possam solucionar o que levou ao desentendimento?
E se for necessário empenhar-se, também, na justiça humana, não é melhor fazer isso de coração liberto? Que adianta ruminar maldades por mais que a raiva possa ser motivada por algo que seja razoável (porque nossa ação normal, num primeiro momento pode ser raiva mesmo! Só que a raiva não é boa conselheira!).
Não é melhor a gente se livrar desse tempero ruim que estraga tudo/ Penso que já passamos por uma situação: nos desentendemos com alguém. Alimentamos ressentimento. Vamos a uma festa e lá está nosso desafeto! O que sentimos? Festa estragada! Não é assim. Adianta isso? Não é melhor ser livre diante da maldade dos outros? Claro que não se subentende que se deva deixar o errado passar por certo. Trata-se de encontrar meio para buscar superar ofensas, desentendimentos, etc.
De qualquer forma vale a reflexão do sábio do Eclesiástico: Pense no fim! Você viveu com raiva. Morreu com raiva! Não resolveu nada! Que vida azarada!